A IMPRENSA DE CUYABÁ

Terça-feira, 23 de Julho de 2019, 13h:15

O quipo de Adriana Milano

Anna Maria Ribeiro

Artefato dos Incas, o quipo consiste em um instrumento utilizado para comunicação, registros contábil e memotécnico.

Estudos recentes informam a respeito do emprego dos quipos pelos indígenas peruanos como um conjunto dos nós que se responsabilizam por narrativas.

Isso mesmo, artefatos que guardam histórias milenares, como um relicário, que começam a ser decifradas.

Composto com uma fieira longa de cordão do qual pendem vários outros cordões, coloridos ou não, enfeitados ou não com ossos e penas, onde cada nó que se dava em cada cordão significava uma mensagem distinta.

Os cordões podem ser desprovidos de nós ou de um ou mais nós que indicam cálculos, comunicados.

O quipo era transportado ao  imperador Inca , em Cuzco , atual Peru. 

Atar e ler as cordas estavam ao encargo unicamente da classe social khipumayuq, guardiã dos quipos.

Um escrito do século XVII informa que os nós presentes nas cordas poderiam trazer informações sobre “batalhas e lutas, todas as embaixadas que visitaram os Incas e todos os discursos e discussões proferidos”.

Foi no “Jardim Secreto”, na Casa do Parque, em fins de junho deste ano, que foi apresentada “Semente Artesanal”, marca assinada pela artista plástica Adriana Milano.

Composta por peças únicas, a coleção de ornatos para o pescoço integra uma linha de acessórios confeccionada manualmente com fibras naturais.

Dentre as peças expostas, lá estava o quipo de Adriana Milano.

À sua maneira, aquele colar deixava de ser um ornato para atingir um estado de insígnia.

As cores preta, branca e vermelha insinuavam o jenipapo, a argila e o urucum, tão frequentes nas pinturas de artefatos e corpos dos indígenas habitantes do Brasil.

Mas, ao contrário do quipo incaico, decifrável somente por antigos khipumayup, o quipo de Adriana Milano é decifrável para ela, a criadora, e para quem passa a vesti-lo.

Esse ato de amalgamação reúne sentires oriundos da criação aos do se ornar para nascer novas narrativas.

Quem as decifrará?