A IMPRENSA DE CUYABÁ

Domingo, 16 de Agosto de 2020, 09h:49

DURANTE E APÓS A QUARENTENA

Um animal de estimação oferece companhia, diversão e apoio emocional, mas exige atenção e rotina

Camila Camalionte, Consultora técnica da Bayer Pet

hOMEM MULHER CAO

 

O Centro de Pesquisa de Conexão Humano-Animal da Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, fez um levantamento com base em pesquisas de Terapia Assistida por Animais (TAA) e os dados concluíram que o ato de acariciar um animal já é por si só relaxante. Isso acontece porque o contato com os bichos ativa o sistema límbico, responsável pelas emoções instintivas, e libera ocitocina e serotonina - os hormônios da felicidade.

A relação entre nós e os animais domésticos é tão intensa que, nos últimos anos, pesquisas científicas têm revelado que essa convivência ajuda no tratamento de distúrbios psiquiátricos como esquizofrenia e transtornos de personalidade, depressão, ansiedade, e até dor crônica. "Escovar um pet pode se tornar um exercício utilizado pelo fisioterapeuta para treinar determinado movimento", exemplifica Karina Schütz, psicóloga do Rio Grande do Sul especializada em Intervenções Assistidas por Animais. Schütz explica que os animais têm personalidades e características que devem ser respeitadas, e que ainda é preciso treinamento para que o pet possa ser um animal-terapeuta.

Karina atende 16 Institutos de Longa Permanência de Idosos (ILPI) e uma escola particular. Para isso, ela conta com uma equipe de dois cães, uma ararajuba chamada Quindim, devido a suas penas amarelas, cinco calopsitas e duas coelhas. "Aves e coelhos são excelentes pets. Mas é claro que os cuidados, tratamento e interação são diferentes.

Os pets e o isolamento social

Se os humanos sentiram (e ainda sentem) os efeitos do isolamento social, o estress também afetou os bichinhos. "A Quindim chegou a arrancar as penas e as coelhas estão roendo tudo o que encontram pela frente!", diz Karina.

A veterinária Camila Camalionte, consultora técnica da Bayer Pet, de São Paulo, explica que, assim como tudo ficou bagunçado para nós, também ficou para os pets. "Foi uma mudança brusca, radical na nossa rotina, refletindo no dia a dia deles também. Estamos em casa, mas trabalhamos mais horas do que no escritório. Como consequência, o tempo para brincar com eles acabou diminuindo".

Para controlar o estresse, a palavra-chave é rotina. "Mantenha a organização de atividades e refeições, assim como as horas de brincadeiras e interações", diz Camila. Sem passear, os cães precisam gastar energia de alguma maneira. Mas nada de mimá-los com petiscos nas horas erradas, só para atenuar a culpa de não estar dando a atenção devida. Isso pode acabar prejudicando a alimentação e provocando ganho de peso, ou seja, um futuro problema que pode impactar na saúde do seu amigo.

No caso dos gatos, que de modo geral têm um perfil mais independente, a confusão surge por perderem os momentos sozinhos em seu território. O contrário também pode acontecer: o gato, até então afeito aos afagos, pode se mostrar um carentão e não sair do colo dos tutores. "Respeite o tempo do animal e observe os sinais que ele mostra. Pressioná-lo a fazer o que ele não quer no momento vai irritá-lo mais ainda", alerta Camila.

No caso dos cães, é recomendado que após os passeios, a higienização das patinhas seja realizada somente com pano umedecido com água. O álcool pode irritar a pele do animal. Procure sempre produtos próprios para pets e consulte um médico veterinário se tiver dúvidas.

A "carentena" bateu

O sentimento de solidão e tristeza invadiu os lares nessa quarentena e muita gente aproveitou o período de isolamento para ganhar a companhia de um amigo de quatro patas. "As adoções e as procuras por um novo pet aumentaram muito! Eu faço uma avaliação criteriosa, peço para conversar por telefone com todos os moradores da casa, solicito vídeos e, se não ficou bom, peço de novo. Eu tenho um compromisso moral em dar uma vida mais digna para os resgatados", conta Gabriel Chaves, protetor autônomo da Casa do Vira Lata (@casadoviralata). Mesmo com tantas peneiras e critérios, nas últimas semanas, quatro animais ganharam lares definitivos. "Nunca aconteceu isso antes", afirma em relação à frequência de adoções.

Um desses encontros especiais aconteceu no dia 28 de abril, dia em que o Paçoca chegou na casa do casal de arquitetos Thauan Miquelin e Bianca Pastore, de São Paulo. "Há um ano nós já havíamos decidido adotar um cachorro mas, sempre que nos interessávamos por algum, alguém, felizmente, já havia passado na nossa frente e adotado. Até que, em março, uma amiga nos enviou o link de um post no Instagram de protetoras independentes, a @loboproteçãoanimal. A Bianca já começou a chorar quando o viu e sabíamos que era ele", conta Thauan. O Paçoca foi encontrado com a pata fraturada e muito debilitado devido à "doença do carrapato". "Existem diferentes tipos dessa doença. Ao picar o animal, o carrapato pode transmitir um protozoário (Babesia canis) ou uma bactéria (Erlichia canis). Os sintomas são praticamente os mesmos em ambos os casos: o animal fica prostrado, pode perder peso, apetite, pode causar anemia, diarreia, entre outros", explica Ana Lúcia Goulart, veterinária clínica de São Paulo. "A doença é grave e pode levar a óbito. O tratamento pode ser agressivo, exigindo até transfusão de sangue. E pode ser reincidente se o agente causador ficar incubado no organismo do cão", diz a veterinária. Por isso, depois de estável, é indicado refazer frequentemente os exames no pet para monitorá-lo, às vezes semanalmente, por exames de sorologia.

Ao adotar o Paçoca, a Bianca e o Thauan assumiram o compromisso de arcar com os custos de fisioterapia e futuras cirurgias caso sejam necessárias. "A gente viu nossa rotina toda mudar, a casa ficou mais alegre e a ansiedade e angústia da pandemia ficaram em segundo plano diante de tanto amor que o Paçoca trouxe pra gente", confessa Bianca.

É fundamental conversar com um veterinário para ajudá-lo a pensar qual espécie de animal e quais perfis são os ideais para a sua realidade. Além disso, o veterinário vai reiterar alertas básicos, mas que na hora da euforia são desconsiderados: cães e gatos, assim como humanos, precisam de cuidados médicos e consultas de rotina, ser alimentados de forma balanceada, ter as vacinas em dia e utilizar medicamentos preventivos para se protegerem de diversas doenças, causadas por pulgas, carrapatos e mosquitos, como a leishmaniose, por exemplo.

Camila Camalionte, Consultora técnica da Bayer Pet, de São Paulo