A IMPRENSA DE CUYABÁ

Terça-feira, 30 de Agosto de 2022, 08h:37

As crianças e as redes

Os Riscos da Superexposição de Crianças e Adolescentes nas Redes Sociais

REGIANE FREIRE

  Regiane Freire

Já faz um bom tempo que tirar foto era algo que só acontecia em momentos especiais. Com o avanço da tecnologia e suas facilidades, nos tornamos cada vez mais dependentes dos meios digitais para quase tudo na vida, e tirar fotos não é mais um evento. Basta estar com o celular na mão e pronto! Várias fotos são imediatamente postadas nas redes sociais.

 Essa mudança de comportamento trouxe aos pais a prática do Sharenting (compartilhando), quando os pais ou responsáveis legais têm o hábito de postar nas redes sociais, fotos, informações e dados pessoais de seus filhos.

 Na empolgação, alguns pais acabam exagerando nas publicações e divulgando informações que pode estar ao alcance de qualquer pessoa. A exposição de imagens e informações sobre crianças e adolescentes aumenta a vulnerabilidade, haja vista que ficam expostos a diversos riscos, tais como: chantagem, ser alvo de criminosos, aliciadores digitais de redes de pornografia infantil, situações que envolve sequestro, perseguição, assédio e outros mais. Esses fatos acontecem quando não há uma proteção dos pais as imagens que postam de seus filhos menores de idade.

 Importante mencionar que as imagens das crianças podem ser usadas fora de contexto, causando humilhações, contatos e mensagens desagradáveis para os menores.

A Sociedade Brasileira de Pediatria alerta para os riscos e os impactos de longo prazo desse hábito na vida dos menores: perda da privacidade, problemas de saúde mental  - ansiedade e depressão – transtornos alimentares – anorexia e bulimia – possibilidade de roubo e fraude de identidade, bullying e cyberbullying.

 O que os responsáveis pelos menores precisam se atentar, é que na empolgação em querer compartilhar a rotina da criança no mundo digital, acabam divulgando dados de caráter muito pessoal dos filhos, compartilhando rotina de saúde, informações sobre onde estudam, quem são seus amigos, os lugares que frequentam.

 Antes mesmo de nascer, a vida intrauterina do bebê já tem os seus registros nas redes. É fácil encontrar vários perfis no Instagram de crianças com status de celebridades, os chamados “influencers mirins”. Alguns começam com o incentivo da família. Outros têm até patrocinadores, construindo uma vida de imagens para agradar outras pessoas. A exploração dessas crianças visando fins lucrativos é uma forma de abuso infantil, com penalidade imposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90.

 Para proteger os filhos de qualquer crime digital, alguns cuidados na hora da postagem devem ser tomados, tais como: não compartilhar dados de localização, nome completo da criança, imagens de filhos não totalmente vestidos, data de nascimento da criança, fotos e vídeos ou detalhes sobre outras crianças, informações sobre a escola que frequenta ou a imagem da criança com uniforme escolar.

Campanhas de conscientização e educação digital seriam fundamentais a criar uma conduta de cuidado e respeito a intimidade dos menores; o debate desse assunto em escolas, na mídia, enfatizando a população para os riscos; a criação de mais delegacias digitais no combate ao crime e fiscalização.

 É extremamente complexo encontrar o equilíbrio do que seria ideal ou exagerado na hora de compartilhar. Mas o que deve prevalecer é o melhor interesse da criança e do adolescente e o seu direito à privacidade, pois nem sempre o que é legal na visão dos pais, é na visão dos filhos.

 Regiane Freire é advogada.