Passear pelas memórias de Dunga Rodrigues é revisitar uma Cuiabá de outrora. Tantos casos! Tantas informações! Quanta sabedoria! Tantas lembranças apagadas pelo adensamento das cidades em nome do urbanismo, do chamado “progresso”. De igual Maria de Arruda Muller também nos brinda com belas memórias, acompanhadas de Waldemir de Pinho.
Memórias vindas das padarias cuiabanas no bairro do Porto, em Cuiabá que nos levam a sonhar com a bela cidade verde e piscosa. Como é o caso do seu Manuel Pouso Filgueira e irmãos. Vindo da Espanha. Padeiro. Proprietário da Padaria Progresso localizada, no final da Av. XV de novembro. Em 1910 desembarcou em Corumbá, depois Cáceres e Cuiabá. Nasceu em 24 de fevereiro de 1887 em lá Coruña e faleceu em 1972. Filho dos lavradores espanhóis Josefa Filgueira Pouso Lopes e André Pouso Fernandes.
Casou com Camilla Henriqueta de Mesquita em 10 de agosto de 1918 (1900-1990), nascida em 15 de julho de 1900, no Coxipó da Ponte, em Cuiabá, filha de Joaquim Bernardino de Mesquita, marceneiro, e Augusta Eustáquia de Mesquita. Moradores do bairro do Porto que deixou muitos descendentes na capital.
Outra memória vem da família de João Saliés e os irmãos Laurent, Maria Luiza e Otacílio. De Pelotas (RS). Padeiro. Proprietários da Padaria Progresso, no bairro do Porto, em Cuiabá. Nasceu em 19 de novembro de 1870 e faleceu em 9 de agosto de 1950, em Cuiabá. Filho de Jacques Saliés e Maria Henriqueta Bacci Saliés. Padeiro em 1917 à beira do rio Cuiabá. Foi proprietário de uma fábrica de sabão na região do antigo bairro Terceiro de Dentro, atualmente Avenida Beira Rio, no Porto. Irmãos: Laurent Saliés, Maria Luiza Saliés e Otacílio Saliés. Da Padaria Progresso, em 2 de fevereiro de 1916, foi à embarcação Independência, que fazia navegação no rio Cuiabá, onde levava pessoas e mercadorias para lugarejos ribeirinhos que estavam no curso do rio acima até chegar em Rosário Oeste-MT. Essas embarcações eram camadas de igarité. Produziu leite, tijolos, telhas, capim.
Waldemir Olavarria de Pinho nos lembra que: “os jovens e as crianças aproveitavam o horário da chegada dos barcos, um pouquinho antes, para comerem os pães quentinhos com manteiga ou biscoitos amanteigados feitos na melhor padaria do bairro do Porto – a Padaria Progresso – pelo mestre Modesto Castrillon”.
Dunga Rodrigues descreve a casa da padaria Progresso como um casarão de muitas janelas que se abriam para o rio Cuiabá. A sua lembrança traz como proprietário o seu João Saliés, que mais tarde passou a propriedade dos pães para as mãos dos irmãos Fernandes e, estes, depois à família Castrillon.
Na Cuiabá do ano de 1917 havia quatro padarias: a do João Saliés, à beira do rio Cuiabá, a do Abelardo Blanco, em frente ao Mercado do Peixe, hoje Museu do Rio “Hid Alfred Scaff”, a do João Lopes da Costa, na Rua 13 de junho, a do Vicente Latorraca, no calçadão da rua de Baixo.
Dunga nos informa que no meio dessas criançadas que corriam à beira do rio Cuiabá cansou de ver o menino Lenine de Campos Póvoas despencar para o rio atrás dos moleques, seus companheiros de travessuras, para brincar de pescaria e, o professor Nilo Póvoas, aos gritos, suplicando-lhe que voltasse para casa. Pena que esse tempo ficou para trás e o rio Cuiabá valente luta para sobreviver e dar vida a cidade.
(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.