A IMPRENSA DE CUYABÁ

Sexta-feira, 20 de Janeiro de 2023, 10h:19

Julieta Vasconcellos de Lima

Luiz Ernesto

Neila preto e branco

 Neila Barreto

Na história das mulheres mato-grossenses e cuiabanas muitas foram pioneiras em fazer do seu sofrimento uma oportunidade de recomeçar. Assim foi Julieta Vasconcellos de Lima. Ao separar-se do marido se viu aturdida do que fazer e como acolher as suas filhas. Da separação herdou dois veículos, de seu esposo que na época era taxista e possuía uma pequena frota com quatro veículos, conforme confidenciou o memorialista Francisco das Chagas Rocha.

Para começar um novo ciclo de vida transformou os dois veículos em táxi e sem nenhuma hesitação foi dirigir um deles nas ruas de Cuiabá para espanto dos motoristas homens. Talvez Julieta seja a primeira mulher taxista em Cuiabá-MT. Nascia ali uma empreendedora no ramo de transportes urbanos. Merece uma pesquisa acadêmica para transformar os relatos em história e memórias, com fontes e documentos.

Julieta Vasconcellos Dias é filha de Moysés Dias de Vasconcellos e Laudelino Perpétua de Vasconcellos, nascida a 29 de outubro de 1927, em Cuiabá, no antigo bairro do Limoeiro, atualmente bairro do Porto e mãe de três filhas.

Julieta herdou do pai o espirito empreendedor. Desde jovem costumava ajudar seu pai no nos afazeres e no atendimento aos fregueses de um pequeno armazém chamado “bulixo”, que ficava localizado na Rua Joaquim Murtinho, no bairro do Porto, em frente ao Estádio Presidente Dutra, na capital mato-grossense. Precisava ajudar os pais, pois era a filha mais velha entre os três filhos do casal. Sábia Julieta! Lá no fundo do seu coração já brotava a sementinha da mulher desbravadora, que enxergava longe e que fez de um limão uma bela limonada. Tornou-se empresária pioneira no ramos de transportes.

Mas Julieta sabia que não bastava ajudar os pais no “bulixo”, era necessário estudar para aprender os caminhos da vida com sabedoria vinda da educação formal. Voou para o Colégio Estadual de Mato Grosso, atual Liceu Cuiabano “ Maria de Arruda Muller”, que naquele tempo funcionava no antigo Palácio da Instrução, atual Biblioteca Estevão de Mendonça, no centro da capital, para concluir os seus estudos, entre os anos de 1940 a 1945.

Nesse mesmo período Julieta casou-se com senhor Nilo Gonçalves de Lima. Após o casamento, o casal mudou-se para a localidade de Mimoso, distrito de Santo Antônio de Leverger-MT. Em Mimoso foi ser professora na escola Santa Claudina. Quanta dificuldade Julieta teve que enfrentar para dar aula em Mimoso! Muitas! Imagine Mimoso em 1945!

Depois da experiência em Mimoso, Julieta e Nilo migraram para Alto Paraguai-MT. Ela continuou com o trabalho de professora no Projeto Rondon, atuando ao mesmo tempo, como professora e agente de atendimento dos povos originários (indígenas). Quanta experiência Julieta colheu desse lugar e desses povos! Experiência que carregou para toda a sua vida.

Cansados, o casal resolveu retornar à capital mato-grossense, lá pelos anos 60. Trazendo em sua bagagem experiências, sabedorias, novos modos, novos fazeres. Com o tempo passou a trabalhar no antigo INPS – Instituto Nacional de Previdência Social e, ao mesmo tempo, lecionar, no período noturno na antiga Escola Estadual Dom Aquino Corrêa, em Cuiabá. Seu grande orgulho foi ter conhecido pessoalmente o presidente Getúlio Vargas, durante sua visita à Cuiabá, na década de 1950.

Com experiências acumuladas ao longo dos anos e a separação ocorrida nos anos 60, Julieta não se acovardou, foi à luta. Competente, determinada, visionária e com um tino aguçado para os negócios, experiências estas aprendidas no balcão do Bulixo, economizou e começou a investir os seus ganhos em novos veículos. Pimba! Na década de 70 já possuía onze veículos. Com essa pequena frota de veículos, Julieta fundou a ALOCAR – a qual alcançou nas décadas de 80 e 90, com frutos do seu trabalho, 40 veículos rodando em Cuiabá e, dando empregos para muitos motoristas na cidade. Bela lição em Julieta! O crescimento de sua empresa foi tamanho que no final dos anos 80, Julieta diversificou a sua empresa e os seus negócios para outros ramos, adquirindo um posto de combustível, e linhas de ônibus.

Julieta trabalhou até os seus 91 anos de idade, administrando de maneira mais modesta, sua empresa ALOCAR LTDA, que em função da modernidade, com a chegada dos aplicativos no mercado dos transportes, reduziu bastante o número de veículos.

Faleceu em Cuiabá no dia 10 de junho de 2022, aos 94 anos de idade, deixando um legado e exemplo de mulher empreendedora e vitoriosa as suas filhas Julinil, Lourice e Julice, netos e bisnetos, marcando a sua trajetória e a sua história na memória do transporte urbano da capital mato-grossense.

Julieta Vasconcellos, empresária do ramo do ramo do transporte, morre aos 94 anos.