A IMPRENSA DE CUYABÁ

Quarta-feira, 08 de Março de 2023, 14h:32

Combate ao "Redpill", ensino de como ser "macho", é bandeira atual da luta feminista

Termo está sendo bastante comentado nas redes sociais nos últimos dias, que significa "coach de masculinidade", com práticas que deterioram imagem e direitos das mulheres

CLARYSSA AMORIM - HNT

cartaz

 

O Dia Internacional da Mulher é marcado por discussões em todo o mundo que relembram a luta pela igualdade de direitos na história da humanidade, pautas essas consideradas históricas. Porém, em pleno século 21, os assuntos estão precisando ser sempre renovados, de acordo com os acontecimentos na sociedade, como é o caso do “redpill”, tipo de comportamento que leva a uma ‘deterioração’ à imagem da mulher.

É o que explica a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas as Relações de Gênero (Nuepom) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bruna Irineu, que o redpill é nada mais nada menos que um movimento de ‘coach de masculinidade’. No último domingo (5), o tema chegou a ser pauta de uma reportagem no Fantástico, da Rede Globo, que tratou o caso do coach Thiago Schutz. Nos últimos dias, ele atraiu a internet brasileira mostrando ascensão e visibilidade de movimentos masculinas que pregam misoginia e discurso de ódio frequentemente.

Segundo a professora, ‘aulas de como ser macho’ é uma das pautas consideradas novas do movimento feministas para lutar contra. Para ela, 8 de março rememora as lutas históricas e clássicas do feminismo em relação ao direito do trabalho, em direito ao voto, ao frágil, ao universal, à crítica de divisão do trabalho, à autonomia do corpo das mulheres, que são pautas antigas, sempre compondo o mosaico do dia de luta da classe feminina.

No entanto, a gente vai renovando os temas na medida que a gente avança em relação aos direitos, na medida que o conservadorismo, o sexismo com uma farsa que vai ganhando outros contornos, como por exemplo, o que vem sido falado bastante nas mídias nos últimos dias é a relação à misoginia, o 'redpill', que são homens que fazem curso, que se organizam para constituir uma cultura misógnia, uma deterioração das mulheres, da reputação das mulheres”, explicou Bruna.

Frases como “seja firme, fale com tom de voz grave, trate-a como uma menina, exerça uma autoridade protetora e comande” ou “toda vez que você abre informações que não deveria para uma mulher, ela poderá identificar suas fraquezas e jogar sujo contra você”, são usadas nas ‘aulas’ de como ser macho.

Para a Bruna, no século em que estamos, isso não deveria entrar em pauta na quebra de cultura antiga da sociedade. Aliás, não deveriam nem existir aulas de como ser ‘machos’. Segundo ela, a quebra de cultura não pode ser feita somente pelas mulheres, mas deve ser obrigação de uma sociedade como todo.

Não são as mulheres que precisam quebrar a cultura, na verdade, a sociedade, que é formada por mulheres e homens, pessoas não binares, de todos os gêneros precisam entender a necessidade da igualdade de gênero, necessidade da construção de autonomia de todos os sujeitos, e isso inclui as mulheres e a nossa história, inclui as mulheres que, na nossa história, estão em um lugar de mais subordinação em relação masculinidade. Então, a nossa sociedade, não só mulheres, tem uma tarefa importante de construir equidade de gêneros, construir ações de uma educação não sexista no seu cotidiano, como, por exemplo, todas as pessoas precisam saber cozinhar e lavar. Todos têm que cuidar da sua casa, porque todas as pessoas habitam a casa”, disse.

Por fim, Bruna citou que a data é justamente para lembrar sobre as lutas e conquistas das mulheres, e não só de receber presentes. “Ao invés de flores no 8 de maço, que a sociedade possa trabalhar na equidade de gêneros, no acesso à representação política partidária, elegendo mais mulheres comprometidas com a agenda feminista, e não mulheres antifeministas”, conluiu.