Onofre Ribeiro
Na semana que passou o programa Roda Viva, da Tv Cultura entrevistou o jornalista, escritor cientista político Jorge Caldeira. É de lá que trago o título e a orientação central deste artigo.
Segundo ele, é preciso estudar profundamente o Brasil deste momento. Ele está mudando completamente a sua orientação econômica e social. Por consequência, também a orientação política e a percepção de nacionalidade. O Brasil está renascendo no interior. Qualidade de vida. Oferta de trabalho. Crescimento econômico. Mudança do perfil sociológico por conta de intensas migrações sucessivas. Preciso traçar um pouco do perfil do Brasil.
Na década de 1950 as migrações de nordestinos e de brasileiros para São Paulo foi enorme. Criaram uma matriz cultural muito diversa. Também de paulistas do interior do Estado.
Na mesma década de 1950, ondas de migrações de gaúchos, mineiros e nordestino pra ocupar o Norte do Paraná. Ainda grandes massas de nordestinos pra construção de Brasília.
Na década de 1970, grandes ondas de colonos sulistas, de paulistas, de mineiros e nordestinos subiram pro Centro Oeste brasileiro. Foi a região de maior crescimento desde então dentro do Brasil.
Segundo Jorge Caldeira, essa população que hoje vive no interior do Brasil é muito diferente da que vive nas grandes cidades. É conservadora. Isso não tem o significado político e econômico de sempre.
Cultiva o trabalho, a família, tem civismo e muita fé no futuro. Aliás, esse é o seu ponto forte. Acredita profundamente que está construindo o futuro do Brasil.
No interior do Brasil o conservadorismo está ligado a valores como oferta de trabalho qualificado. Boa qualidade de vida.
Nesses tempos atuais de política exagerada, não se pode ligar esse espírito conservador com política e nem com políticos. É a cara do Brasil novo. Vamos a alguns exemplos.
Mato Grosso, junto com Santa Catarina e Distrito Federal são considerados, pela Fundação Getúlio Vargas, os estados com o maior crescimento econômico nos próximos anos. Distrito Federal é uma ilha. Mas Mato Grosso é um continente.
Vamos a dois números. Até 2030, estima-se que Mato Grosso deverá oferecer 800 mil vagas de empregos, a maioria qualificados. Isso atrairá jovens do país inteiro numa nova onda migratória de alta qualificação profissional.
Outro número, em 2030, Mato Grosso deverá produzir 142 milhões de toneladas de grãos, de fibras, de carnes e perto de 10 bilhões de litros de combustível verde de milho e cana. Bom que se diga, lembra o jornalista, especialista também em questões ambientais, que pra alcançar esses números a sustentabilidade será fundamental. Os setores produtores sabem que o mundo rastreia grão a grão produzidos e exportados.
Jorge Caldeira alerta que é preciso se estudar o interior do Brasil como a cara de um novo Brasil que aos poucos substituirá a importância das grandes cidades que até então formaram a economia brasileira.
Melhor: a nova cultura humana virá do interior do Brasil. Especialmente do Centro-Oeste brasileiro e de algumas regiões do interior nordestino e do Sul e do Sudeste.
É um Brasil em construção, naturalmente, com todas as contradições.
Mas o Brasil novo virá do interior do Brasil.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.