Um triste levantamento foi feito pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (20). O documento fornece diversas informações sobre a Segurança Pública em nível nacional e, na edição deste ano, apontou a cidade de Sorriso como a sexta mais violenta do país.
O índice leva em consideração os municípios com mais de 100 mil habitantes e tem essa mesma quantidade como parâmetro para medir a violência. Sorriso apresenta uma taxa de mortes de 70,5 a cada 100 mil moradores. Para se ter uma ideia da gravidade, a taxa registrada no município é superior à de outros grandes centros, famosos por sua violência, como Rio de Janeiro e São Paulo.
O município mato-grossense também é o único do Centro-Oeste a configurar na lista.
Causas e efeitos
O Estadão Mato Grosso conversou com o professor Naldson Ramos, especialista em segurança pública do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania (NIEVCi) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em sua análise, são vários os motivos que contribuem para o cenário violento de Sorriso.
Ele explica que o "boom" econômico dos últimos anos contribuiu para isso. Apesar do aumento de vagas de emprego, uma parcela da população não consegue ingressar no mercado de trabalho por não ter tido acesso à uma educação de qualidade. O desemprego e a necessidade dessas pessoas cria a oportunidade perfeita para que o crime organizado atraia novos membros.
Segundo Ramos, esse recrutamento é feito, principalmente, nas regiões mais pobres da cidade. O restante é efeito cascata: mais pessoas envolvidas na criminalidade resulta no aumento do tráfico de armas e drogas, assim como de roubos e furtos. Atrelado a isso, também aumenta o número de assassinatos, além de confronto entre facções e contra as forças de segurança.
Outro ponto que influencia diretamente no aumento da criminalidade, conforme explica o especialista, é a circulação de armas no município, que se também se torna alvo dos criminosos, com o objetivo de aumentar seu arsenal. Para tomar a arma de um civil, muitas vezes esses bandidos age de forma violenta.
Política da Morte
Defensor do devido processo legal, o professor explica que a bandeira de "bandido bom é bandido morto" contribui também para esse cenário. À reportagem, o professor apontou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como importante aliado dessa ideologia mortífera. Ramos ainda criticou a postura do governador Mauro Mendes (União Brasil), por defender que "bandido aqui em Mato Grosso não se cria".
O professor explica que tal política alimenta ajuda a alimentar os confrontos entre as forças de segurança e os criminosos, alimentando cada vez mais o aumento da violência.
“Bandido bom é bandido investigado, preso, sentenciado e com a pena cumprida”, finaliza.