Marcos Estevão
O ciúme é o desejo que determinada pessoa tem de manter o ser amado ao seu lado, de não querer dividi-lo com mais ninguém. De cuidar da pessoa amada, não apenas pela simples vontade de lhe dispensar assistência e atenção, mas como forma de vigilância e algum cerceamento de liberdade.
Até certo ponto o ciúme é um sentimento normal, que existe desde o início da vida animal e racionalizado desde os primórdios da civilização humana. Observa-se o ciúme já presente na tenra infância, quando a criança não quer partilhar a mãe com o pai, nem com o bebê mais novo que está chegando.
Às vezes o ciúme vem com uma simples olhadela de canto de olho; outras vezes como uma apresentação: prazer, ele é meu marido ou ela é minha mulher; outras vezes, o ciumento sente-se incomodado quando seu amor se veste com uma roupa bonita ou usa um perfume novo; ou por que você não me atendeu? Precisa demorar tanto tempo assim no telefone com ela?
Um pouco de ciúme não faz mal a ninguém, chega a adoçar a relação, mas quando passa do ponto, pode tornar o relacionamento difícil e até insuportável. Neste caso estamos diante de um processo mórbido, conhecido como ciúme patológico, que é algo incontrolável e persistente, quando o ciumento cria coisas que não existem ou apresenta exageros perceptivos, quando, por exemplo, uma situação normal lhe parece suspeita.
O ciumento tenta obsessivamente controlar o outro e assim defender-se de sua própria insegurança. Deseja a exclusividade do outro e chega afastá-lo de amigos e até de familiares. Por vezes, os filhos também são vítimas do ciúme de um dos parceiros. Antigos relacionamentos do outro são os mais temidos pelo indivíduo ciumento. É comum um dos parceiros achar que está sendo traído e muitas vezes até sabe dizer com quem é o suposto relacionamento. O casal, por tudo isso, termina restringindo sua vida social, isolando-se cada vez mais em casa.
O ciúme patológico acomete homens e mulheres aparentemente saudáveis, mas há casos frequentes em alguns transtornos mentais psicóticos e no abuso de álcool e drogas, quando as manifestações de ciúme, muitas vezes acompanhadas de agressividade, fazem parte da descrição sintomatológica.
Uma pessoa obcecada pelo ciúme, achando-se o tempo toda traída ou prestes a isso, que passa a se ver sem o controle do outro e com risco de perdê-lo, chega a ser uma ameaça e pode tornar-se perigosa para si ou para o outro.
A princípio, a pessoa com ciúme patológico precisa compreender que isso não é normal e que necessita de ajuda profissional. De início, o tratamento deve ser apenas psicológico. Quando as manifestações sintomatológicas forem muito graves ou quando houver outro transtorno mental, que evolua com ciúme patológico, há necessidade de apoio psiquiátrico e uso de medicamentos para o controle das obsessões de ciúme e dos impulsos auto e heteroagressivos, ligados ao comportamento ciumento patológico.
Marcos Estevão é escritor e psiquiatra