A IMPRENSA DE CUYABÁ

Terça-feira, 05 de Dezembro de 2023, 17h:37

Home Office

art ricardo carvalho

 

Com o advento do Coronavírus, das restrições à mobilidade social, muitas empresas colocaram parte dos seus funcionários em regime de tele trabalho.

Este fenômeno, que é relativamente novo no Brasil (que fala que o boi não engorda senão debaixo do olho do dono), é já uma prática muito adotada em outros países.

Por exemplo, numa empresa em que eu trabalhava em Inglaterra, eles nem tinham espaço para mim. Eles me falavam: “fique em casa, fique na rua, fique no cliente, fique em qualquer outro lugar menos aqui”. Era fácil de entender porquê.

Era uma empresa de consultoria estratégica, situada em um dos locais mais nobres de Londres, o valor do espaço de escritório, por metro quadrado, não era, com certeza, baixo. E eles não iriam querer gastar essa grana justo comigo. Então eles me falavam “fique em casa e não venha ao escritório”. E se, por alguma razão eu tinha mesmo, mesmo, mesmo que ir, então tinha que telefonar no dia anterior, para saber se havia lugar, tinha que reservar uma mesa (não era bem uma mesa a que o meu perfil profissional tinha direito, era mais uma baia de LanHouse) e tinha que avisar para eles retirarem o meu modulo (aquele que fica por baixo da mesa) da armazenagem.

Sério, verdade mesmo.

Mas como este é um novo modelo, cuja adoção foi mais forçada que voluntária, aqui vão umas dicas de quem já faz isto há muitos anos:

O home office não é o tipo de trabalho que serve para todo mundo.

Infelizmente nem todos podem trabalhar home office. Em primeiro lugar há que distinguir que apenas trabalhadores do conhecimento o podem fazer de uma forma efetiva.

Isto porque o grande ativo que precisam para serem produtivos é o próprio cérebro e acesso a informação. Outros tipos de trabalhadores necessitam de ativos empresariais, sejam ferramentas ou matérias primas (no caso da indústria), ou mesmo produtos acabados (no caso do varejo) que não faz sentido, logisticamente, distribuir. Afinal, a empresa é, por natureza, um local de concentração de ativos por forma a criar sinergias.

banner ricardo

 

Home office não significa trabalho em casa Apesar desta ser a tradução do termo, Home Office significa que o funcionário pode trabalhar sem estar obrigado às instalações da empresa. Tipicamente, ele trabalha em casa, mas por uma série de outras condicionantes pode ser, por exemplo, num coworking, num café, etc.

Home office também não significa ganhar muito trabalhando pouco.

Se fizer uma busca com o termo Home Office, irá encontrar inúmeras ofertas para "trabalhar sem sair de casa" Tem desses serviços? Sim, tem, você pode passar algumas horas lambendo envelopes ou dobrando folders, mas dificilmente ficará rico com esse tipo de serviço. O trabalhar sem sair de casa, nessas situações significa apenas que alguém encontrou uma forma de colocar os seus ativos domésticos ao seu (dele) dispor. Tipicamente você trabalhará muito e ele ganhará muito dinheiro.

Todo o dia é dia de home office Se você trabalha em casa, para uma empresa, você acaba por trabalhar mais do que no escritório tradicional.

Veja bem, você se levanta à mesma hora (o homem é um animal de hábitos) mas não perde tempo com idas e vindas no trânsito. Depois você passa o tempo entre a hora de entrada e a hora de saída, centrado, mais focado nas suas tarefas, sem qualquer distração corporativa como reuniões, pausas para cafezinho ou distrações causadas pelos colegas.

Ah, sim, e da mesma forma que trabalha de segunda a sexta, você perde o hábito de resguardar seus sábados e domingos. Todos os dias são dias de trabalho.

Disciplina, disciplina, disciplina.

Se você não necessita de colocar o terno para "ir trabalhar", também não o deve fazer de pijama. Pijama e pantufa não combinam com home office.
Trabalhar dessa forma necessita de disciplina e profissionalismo.

Nada de estar em tronco nu no momento de uma conferência vídeo com o chefe ou colegas, como eu assisti, há alguns dias atrás. Para além do respeito aos outros existe também e, não menor, a necessidade de preservar a sua autoestima.

O home office não é um mar de rosas…

E não é um mar de rosas porque alguns fenômenos, de natureza individual, acontecem:

por exemplo:

a) Isolamento Social. Para o bem e para o mal, a empresa é um local que promove relações sociais. E a espécie humana, sendo gregária, deseja ter os seus à sua volta. Em
casa, no ambiente de Home Office isso é difícil, porque é um conjunto de pessoas que não partilham os seus motivadores principais durante o período de trabalho. E você tem que se isolar delas.

b) Disciplina, novamente. Você precisa de ser capaz de ignorar as coisas que tipicamente não tem na empresa. Você não tem Console de Jogos, você não tem televisão e Netflix, você não tem geladeira com cervejinha, você não tem as crianças brincando em casa com um volume sonoro significativo, não tem o cachorro latindo, nem gente batendo palmas na porta da casa.

c). Você vai sentir falta de um colega de confiança, com quem pode falar para o ajudar a sair de um problema em particular. Esses problemas, tipicamente, não necessitam de escalamento hierárquico, mas são aqueles onde você esgotou uma linha de pensamento e precisa de uma ajuda para encontrar uma outra, uns passos atrás.

…mas é um lugar muito bacana para trabalhar Apesar dos desafios que apresentei, quem consegue administrar seu tempo e produzir com qualidade, em home office acaba trabalhando mais, melhor e também e aproveitando muito mais a vida.

Com o trabalho remoto evitam-se as várias horas e o enorme stress causados pelo trânsito. Esse tempo pode ser melhor usado com atividades de natureza lúdica como desporto, cinema e até, namorar.

A alimentação tem grande possibilidade de ser melhorada e, consequentemente, a saúde.

Trabalho em Home Office, não é para todos, é apenas para quem pode, e para quem realmente pode é absolutamente fantástico.

Ricardo Carvalho é consultor credenciado do SEBRAE, e sócio fundador e CEO da Sucesso.Global

e-mail: [email protected]