A IMPRENSA DE CUYABÁ

Sexta-feira, 17 de Maio de 2024, 13h:10

Razões para refletir

marcelo portocarrero

 Marcelo Augusto Portocarrero

Dias atrás perdi um amigo que inesperadamente, foi ao encontro de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, essência divina e suprema a quem devemos nossa existência terrena.

Uma pessoa especial, daquelas que se comportam como verdadeiros irmãos, dadas as inúmeras concordâncias que tínhamos sobre quase tudo. Isto me levou a fazer uma reflexão sobre a correlação desta amizade com outras situações de minha vida. Neste sentido, me refiro à forma como considero e assumo meus relacionamentos e compromissos.

Para fazer a analogia pretendida vou retirar do assunto as questões familiares – o objetivo aqui é outro – sua abordagem se restringirá aos relacionamentos de amizade e compromissos formais assumidos junto a grupos, instituições, associações e outras entidades.

Nelas, quaisquer sejam seus objetivos, existem normas, regimentos, regulamentos, rituais, mas principalmente leis a serem observadas e respeitadas. Caso do maior e mais importante desses instrumentos, a Constituição do país.

A principal razão de estar me referindo a tantas formas de regramento é a importância da existência de reciprocidade entre o que é imposto ou obrigatório e os indivíduos sujeitos a isto, seja por opção ou por submissão à maioria. Aqui, considerando maioria como um subconjunto de um grupo cujo número é superior à metade do grupo inteiro, de acordo com o que diz a literatura universal sobre o assunto. Afinal, para que servem todas essas regras se não forem no intuito de promover convivência e o bem comum?

Razão pela qual a semelhança entre a perda acima referida e o que acontece conosco de forma generalizada, faça com que precisemos reavaliar frequentemente nossos papeis dentro e fora dos ambientes que frequentamos.

Como não tinha contato diário com o amigo que perdi, assim como não existe tal relacionamento nos demais ambientes, fica em mim a sensação de semelhança entre o sentimento de não pertencimento e o de perda que aquele falecimento trouxe.

Sigo falando sobre um evento que promovi a poucos tempo, quando fiz questão de encaminhar com antecedência suficiente convites via WhatsApp, Facebook, para todos os grupos a que pertenço e conhecidos de quem tenho o número do celular, na esperança de poder contar com suas presenças de modo a transformar aquele momento que pareceria ser somente meu em uma grande reunião de pessoas queridas, que raramente se encontram.

Volto a mencionar o falecimento do meu querido amigo, compadre e irmão de coração. Pois bem, ele morreu menos de 24 horas depois de nos vermos pela última vez, encontro que se deu devido ao lançamento de meu recente livro. Fato que permitiu nos despedirmos com um caloroso abraço e beijos nas faces, gestos que costumávamos fazer. Afinal, éramos como irmãos.

Sua ausência não foi percebida, o que leva esta questão a ser encerrada sem procurarmos razões para que a lamentável situação tenha acorrido. Ninguém sabia onde estava, sendo o corpo encontrado em seu quarto, onde provavelmente faleceu enquanto dormia. Aí está a analogia desta situação com o que acontece conosco em relação às pessoas que amamos, queremos bem e nos relacionamos.

Fazendo uma retrospectiva do passado, percebo que desde o início do ano, portanto, a alguns meses não tenho procurado com a frequência necessária meus irmãos, parentes, amigos, colegas e demais companheiros de jornada, tão pouco eles a mim com a constância de antes.  Se não tenho como justificar minhas falhas, tampouco teria para cobrar a mesma coisa dos outros.

Vida que segue! Seria o caso de pensar, não fosse a falta que sinto desse meu querido amigo e de todos, gente tão importante quanto ele em minha vida e com quem tão poucas vezes tenho me encontrado.

Vejam meus caros, que volta e meia comentamos sobre a falta de contato com pessoas queridas, mas nada de efetivo fazemos para novamente traze-las ao nosso convívio. Lamentamos suas ausências somente quando estas se fazem permanentes, quando não poderemos mais conversar, abraçar e, porque não, beija-las com o carinho fraterno que só enaltece os laços que nos unem.

Aproveitemos os tristes momentos que as faltas nos fazem para refletir sobre os conceitos de amizade, coleguismo e irmandade, tão negligenciado nos tempos atuais, de modo a mudarmos nossos hábitos e não nos submetermos mais ao isolamento compulsório, que o passar do tempo e as distâncias nos induzem.