A IMPRENSA DE CUYABÁ

Quarta-feira, 12 de Junho de 2024, 12h:35

Neri diz que decisão pela realização de leilão sob suspeita foi de Fávaro: "mal conduzido"

Geller foi colocado no "olho do furacão" devido à participação do ex-assessor dele nas negociações do leilão do arroz por meio de uma corretora. Polêmica culminou em sua exoneração

RAYNNA NICOLAS - Hipernoticias

neri geller

 O ex-secretário do Ministério da Agricultura, Neri Geller

O ex-secretário do Ministério da Agricultura, Neri Geller, atribuiu ao titular da pasta, Carlos Fávaro, a decisão pelo leilão do arroz que trouxe consequências desastrosas ao governo federal.

Sob suspeita de fraudes, o certame teria sido tratado diretamente entre o ministro da Agricultura e a Casa Civil, ignorando recomendações técnicas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e, inclusive, do próprio Neri. 

"Foi uma decisão da Casa Civil junto do ministro Fávaro. Agora, como se deu lá eu não sei, porque não consegui participar. O ministro puxou esse assunto 100% para o gabinete. Quem decidiu não fomos nós, inclusive nós orientávamos tecnicamente que, num primeiro momento, fizesse alíquota zero das importações fora do Mercosul, mas decidiram pelo leilão. Fizeram leilão de 100 mil toneladas, o que era aceitável, depois fizeram esse leilão de 300 mil toneladas, que foi mal conduzido", alegou Geller em sua primeira entrevista à imprensa após ser exonerado do Mapa. Declarações foram concedidas à Band News. 

Geller foi colocado no 'olho do furacão' devido à participação do seu ex-assessor nas negociações do leilão do arroz por meio de uma corretora. Robson Almeida França trabalhou com Neri até 2020, quando Geller ainda era deputado, e intermediou o arremate de 90 mil toneladas do grão para três empresas. Celeuma culminou na exoneração de Neri após uma conversa entre Fávaro e Lula. O ministro optou por dizer que o secretário tinha colocado o cargo à disposição, mas Geller nega que tenha pedido para deixar a Secretaira de Política Agrícola. 

O filho de Neri Geller, Marcelo Geller, chegou a ser ventilado como dono da corretora vencedora do leilão. Contudo, tratava-se do ex-assessor dele, Robson, com quem Marcelo iniciou um projeto de corretora, mas, conforme Neri e Robson, a empresa não deslanchou. 

"Conversei com meu filho, ele categoricamente me afirmou que essa corretora não foi efetivada do ponto de vista da operacionalização, não fez nenhuma operação, não participou de nenhum leilão, nem público e nem privado", afirmou. "Também liguei para o Robson e ele muito categoricamente me disse: 'deputado, você não paga mais meu salário, eu estou tocando a minha vida. O senhor sabe que tenho escritório de consultoria desde 2020. Não deu certo com Marcelo, eu abri minha corretora e estou participando de leilões desde o ano passado'", completou.

Sobre a 'bagunça' no leilão, Geller defendeu que houve falta de orientação ao presidente Lula (PT), que precisará remediar a repercussão negativa das suspeitas de fraudes e anulação do certame. 

"As posições técnicas não foram seguidas, as decisões foram muito assodadas para fazer com que o arroz chegasse nas periferias, nos grandes centros, o que é louvável, mas a forma como foi feito, foi equivocado. Mas nós tínhamos informações do Rio Grande do Sul que 78% já tinha sido colhido e que o que faltava ser colhido a maioria estava fora do eixo das enchentes. Nós tínhamos informações que o Centro-Oeste cresceu a produção em 30% e de que o Mercosul tinha estoque de arroz, poderíamos fazer de forma mais escalonada", ponderou. 

De fora do staff do governo, Neri Geller ainda destacou que enveredou esforços para que o leilão fosse realizado de forma mais prudente, mas que prevaleceu a 'má condução'. 

"Não faltou por minha parte na Casa Civil, nas reuniões técnicas, acompanhadas por membros do Ministério da Fazenda e do Planejamento, para que a gente fizesse as coisas com mais cautela e mais organizadas. Infelizmente foi conduzido de forma equivocada. Não estou falando que houve má-fé por parte de qualquer um, o que houve foi uma má condução", concluiu.