A IMPRENSA DE CUYABÁ

Sábado, 14 de Setembro de 2024, 14h:25

Há oito anos, estudantes usavam ironia para expor descaso com Centro Histórico de Cuiabá

Com o uso de ironia e sarcasmo, o “Movimento Cuyabania”, buscou expor o descaso com o patrimônio cultural da cidade em meio às eleições municipais

Da Redação - PNB

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Em 2016, um grupo de estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) lançou uma ação ciberativista provocativa para chamar a atenção sobre o abandono do Centro Histórico de Cuiabá. Com o uso de ironia e sarcasmo, o “Movimento Cuyabania”, buscou expor o descaso com o patrimônio cultural da cidade em meio às eleições municipais daquele ano.

Através da página no Facebook, Heloisa Gomes, Leonardo Corrêa e Safira Campos, sob a orientação do professor Pedro Pinto de Oliveira, não apenas interpelaram a população, mas também buscaram envolver políticos na discussão, o que gerou debates sobre a importância e o futuro do centro histórico da capital mato-grossense.

A proposta do grupo era clara. Provocar um incômodo público e trazer à tona a questão da degradação dos prédios históricos da região central de Cuiabá, uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O Centro Histórico, que abriga monumentos como a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, e o Palácio da Instrução, sempre foi visto como um símbolo da identidade cultural e histórica da cidade, mas enfrenta sérios problemas de conservação.

Falta de infraestrutura e edifícios em ruínas eram alguns dos pontos críticos destacados pelos estudantes de Comunicação. A ação começou de maneira ousada. Em sua primeira fase, apelidada de “Dark Side”, o movimento adotou uma estratégia de comunicação agressiva, com postagens que desqualificavam deliberadamente a importância do Centro Histórico.

Hashtags como #VendeCentro, #TombaMesmo e #XôRestoVelho foram usadas para sugerir a venda ou destruição do patrimônio histórico. A abordagem, carregada de sarcasmo, gerou forte reação dos internautas.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Essa reação era justamente o objetivo do grupo. Segundo os ativistas, a intenção era criar um choque inicial, fazendo com que a população refletisse sobre o valor do Centro Histórico ao ver a proposta absurda de sua destruição. “Queríamos provocar um desconforto, para que as pessoas percebessem o quanto o Centro Histórico tem valor e como ele estava sendo negligenciado”, explicou Safira, que hoje é jornalista.

 

Após essa primeira fase, marcada pela ironia, o grupo adotou um tom mais reflexivo. Na segunda fase, as postagens passaram a informar sobre a importância cultural, arquitetônica e social do Centro Histórico de Cuiabá. O movimento pediu sugestões aos internautas, numa tentativa de inserir o tema nas discussões eleitorais. O objetivo era fazer com que a pauta da preservação do Centro fosse levada a sério pelos candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores.

O Movimento Cuyabania evidenciou que, para a população cuiabana, o Centro Histórico tinha grande valor, mas estava distante do cotidiano político. Ao longo do ciberativismo, os internautas discutiram a necessidade de revitalização do local e propuseram novas formas de ocupação, como eventos culturais, feiras e outras atividades que pudessem trazer vida de volta à região central. Muitos apontaram a falta de segurança, infraestrutura e projetos de requalificação como os principais obstáculos para a revitalização do espaço.

O debate também revelou uma desconexão entre a população e o poder público em relação ao Centro Histórico. Enquanto os cidadãos reconheciam seu valor cultural e a importância de preservar a memória da cidade, o poder público parecia alheio às necessidades de revitalização e preservação daquele espaço. A análise gerou um artigo científico, que foi apresentado na Universidade de São Paulo (USP) naquele ano.

(Foto: Reprodução)

Eleições 2024

O Centro Histórico de Cuiabá é tombado desde 1993 pelo IPHAN e, ao longo dos anos, sua importância foi amplamente reconhecida por estudiosos e pela população. Além de ser um símbolo da fundação da cidade, que remonta ao século XVIII, a área concentra uma riqueza arquitetônica e cultural inestimável. Contudo, o que se viu nos últimos anos foi a deterioração dos prédios históricos, muitos deles abandonados ou em mau estado de conservação.

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Em 2024, o cenário começa a mudar com todos os candidatos à Prefeitura de Cuiabá mencionando o Centro Histórico em suas propostas. Abílio Brunini destaca a segurança como uma prioridade, prometendo a presença da guarda municipal armada, melhorias na iluminação pública e monitoramento constante por meio do programa Vigia Mais. Seu foco é assegurar que o Centro seja um local mais seguro e acessível para a população.

Eduardo Botelho, por outro lado, propõe uma visão mais voltada ao desenvolvimento econômico, sugerindo a implantação de um Parque Tecnológico na região histórica. O projeto visa atrair empresas de tecnologia, educação e telecomunicações, para criar um ambiente que combine preservação cultural com inovação e geração de empregos.

Lúdio Cabral apresenta uma proposta abrangente de requalificação do Centro Histórico, buscando alavancar o comércio local e promover a preservação da história de Cuiabá. Ele enfatiza a necessidade de um plano de ação que priorize as pessoas mais vulneráveis e dinamize a economia local. O objetivo é unir preservação e desenvolvimento econômico sustentável.

Domingos Kennedy é o que oferece uma proposta mais vaga, que fala em implementar parcerias para revitalizar o Centro Histórico, sem detalhar como essas ações serão conduzidas. Sua ideia é integrar a cultura local aos serviços turísticos, promovendo o desenvolvimento do município.