Gonçalo A.B. Neto
As Academias de Letras, em seus diferentes contextos, são instituições de prestígio que atuam como guardiãs da língua, da literatura e das tradições culturais. Sua origem remonta à Europa do século XVII, com a fundação da Academia Francesa, em 1635, sob a égide do cardeal Richelieu, a serviço do rei Luís XIII. A Academia Francesa, referência mundial, nasceu visando normatizar e proteger a língua francesa, reunindo os maiores intelectuais, poetas, romancistas e filósofos da época. Seu exemplo reverberou em diversas partes do mundo.
No Brasil, as academias de letras ganharam destaque com a fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1897, inspirada diretamente no modelo da Academia Francesa. Seu primeiro presidente foi ninguém menos que o célebre Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura brasileira, cuja obra transita entre o romantismo e o realismo, representando a profundidade psicológica e a complexidade da alma humana.
Composta por quarenta membros, conhecidos como "imortais", a Academia é a instituição de maior renome literário no país e exerce forte influência sobre o cenário cultural nacional. A ABL, almeja não só a promoção da língua portuguesa como também a preservação do patrimônio literário brasileiro, sendo responsável pela imortalização de autores como João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e tantos outros.
As Academias de Letras, em suas diversas expressões, simbolizam mais do que meras associações de escritores e intelectuais. Elas são espaços onde o pensamento, a arte e a língua são cultivadas e preservadas para as gerações futuras.
Além da ABL, cada estado brasileiro possui suas próprias academias regionais, que desempenham um papel fundamental na promoção das literaturas locais, sendo espaços de intercâmbio de ideias, publicação de obras e incentivo ao estudo da cultura regional.
Em Mato Grosso, a Academia Mato-Grossense de Letras (AML) tem uma função igualmente importante. Fundada em 1921, a AML é uma das mais antigas do país e se tornou um centro de referência para os estudiosos e amantes das letras do estado. Sua criação veio em um momento histórico de transformação cultural no Brasil, quando as regiões começavam a reconhecer a importância de suas culturas próprias e a refletir sobre suas identidades.
Dom Francisco de Aquino Corrêa foi eleito presidente de honra da AML, tendo o poeta, jornalista e historiador, Desembargador José Barnabé de Mesquita, como seu primeiro presidente, simbolizando o profundo entrelaçamento entre a cultura e a história regional. Aquino Corrêa, poeta e intelectual, representava o ideal de unir o erudito ao popular, uma missão que a AML continua a perseguir até hoje.
Em Mato Grosso, autores como Ivens Cuiabano Scaff, cuja trajetória foi marcada pela defesa da cultura local, também figuram como exemplos do vigor literário da região. Poetas contemporâneos, a exemplo de Lucinda Persona, são vozes que continuam a ressoar nas academias, mostrando que a literatura mato-grossense é viva, dinâmica e profundamente ligada às raízes do seu povo.
No Brasil, e em particular em Mato Grosso, as academias de letras são mais que espaços de erudição: são pilares da memória coletiva, abrindo portas para novas gerações de escritores e pensadores. Como afirmava o poeta Jorge Luis Borges: "A literatura não é outra coisa senão um sonho dirigido." As academias, assim, permanecem vigilantes nesse sonho, garantindo que ele continue a ser contado".
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tomará posse, nesta segunda-feira, 7 de outubro de 2024, às 19h30min, Casa Barão de Melgaço, na cadeira 7, sendo o seu 4.º ocupante.