Lúdio Cabral (PT)
As eleições municipais em Cuiabá revelam uma jogada clara de manipulação de Lúdio Cabral (PT), que, no segundo turno, tenta se descolar de sua base tradicional da esquerda e atrair o eleitorado conservador. Um movimento claramente calculado, que beira a contradição, mostra um político disposto a moldar sua imagem para conquistar votos a qualquer custo.
A divulgação de uma "Carta aberta aos cristãos", onde Lúdio utiliza expressões bíblicas e faz promessas associadas a valores religiosos, é uma clara tentativa de aproximar-se de um público que, historicamente, se identifica com a direita e, mais recentemente, com o bolsonarismo. O uso de palavras como "resposta de orações" e o compromisso de "valorizar a vida desde a concepção" representam uma guinada desconcertante para um candidato de um partido que tradicionalmente se alinha com pautas progressistas e que se opõe a muitos dos valores defendidos pelo conservadorismo cristão.
Mas até onde vai a autenticidade dessa "nova" versão de Lúdio Cabral? Aparentemente, não muito longe. A omissão do vermelho do PT e do símbolo do partido em sua campanha é sintomática de uma tentativa quase desesperada de se desassociar da própria legenda que o lançou à política. O que estamos presenciando aqui é a construção de um personagem para agradar quem historicamente sempre o rejeitou.
A posição de Lúdio contra o aborto, tema central em muitos debates da esquerda, mostra a tentativa de criar uma "esquerda conservadora", uma combinação que, na prática, soa como um oxímoro político. O que Lúdio está tentando é caminhar na corda bamba entre os ideais progressistas de sua base e os valores conservadores que mobilizam o eleitorado religioso de seu adversário, Abilio Brunini (PL), defensor dos pilares bolsonaristas de "Deus, Pátria e Família".
Esse movimento, entretanto, não é novo. Na política, é comum ver candidatos ajustando suas campanhas para expandir sua base eleitoral. Mas quando essas mudanças são tão abruptas e claramente oportunistas, o risco de alienar tanto a base progressista quanto o público conservador é real. Parte do eleitorado pode enxergar em Lúdio um político disposto a se reinventar para se adequar à dinâmica eleitoral, enquanto outros podem ver nele um oportunista que trai seus princípios em troca de votos.
Além disso, a carta de Lúdio Cabral vai além da mera retórica religiosa. Ele também promete ações concretas voltadas para as igrejas, como ampliação de creches, distribuição de alimentos e cursos de qualificação profissional, numa tentativa clara de criar uma ponte entre o governo e instituições religiosas, um público que, historicamente, sempre se posicionou com reservas em relação ao PT. Mas o que deveria ser uma tentativa de ampliação de sua base social pode, na verdade, soar como uma estratégia de manipulação eleitoral.
O PT e os valores conservadores nunca se misturaram. São forças antagônicas, como água e óleo. Lúdio Cabral, ao tentar se reposicionar, joga um jogo perigoso, correndo o risco de diluir sua identidade política e perder a confiança de seus eleitores de longa data.
Afinal, a quem ele tenta iludir ? A seu eleitorado de esquerda, que vê com desconfiança suas novas alianças e discursos? Ou aos conservadores, que certamente enxergam nessa manobra uma tentativa de ganhar votos?
No fim, é essencial lembrar que política é sobre coerência e responsabilidade. Lúdio Cabral pode tentar se camuflar como um defensor dos valores tradicionais, mas essa estratégia escancara uma crise de identidade que, no longo prazo, pode ser mais prejudicial do que benéfica. Será que ele conseguirá ludibriar o eleitorado cristão e conservador ?
O tempo, e as urnas, dirão.