A IMPRENSA DE CUYABÁ

Segunda-feira, 21 de Outubro de 2024, 14h:40

O primeiro médico de Chapada dos Guimarães conta sua trajetória nos primórdios da cidade

Helena Werneck - Alô Chapada

joao eloi

 João Eloy de Souza Neves, médico

Na ultima (18), foi comemorado o dia do Médico, uma das profissões mais importantes para manutenção da saúde. Em homenagem a todos os médicos de Chapada dos Guimarães, em entrevista ao Alô, João Eloy Neves (79), o primeiro médico formado de Chapada, nos concedeu uma entrevsta contando sua trajetória de vida, fazendo parte da história do município e da vida de todos os chapadenses.

João Eloy de Souza Neves, nascido em 1945, foi o primeiro médico formado de Chapada dos Guimarães, nascido na Praça Wunibaldo, 667, onde mora sua mãe até os dias de hoje, Dona Maria Simplista da Paixão Neves (98), formado em Niterói, Rio de Janeiro em 1972, na UFF (Universidade Federal Fluminense), com especialidade em gastroentrologia, especialização em saúde da família e clínica médica. É Médico há 52 anos, aparou mais de 5 mil crianças, construiu seu próprio hospital a ClÍnica Santa Maria, e é compositor do Hino de Chapada dos Guimarães

Tenho muito orgulho de ter nascido em chapada, ser o primeiro médico do município. Consegui avançar muito, chapada não tinha história escrita, eu escrevi, não tinha hino, eu compuis. E hoje desejo que Deus e Nossa Senhora de Santana abençoe todos os chapadenses”, revelou o médico, personagem dos primórdios da cidade.

João conta que nasceu em Chapada em uma época em que a cidade era muito pequena, um povoado, tinha duas ruas de lama, não tinha energia elétrica, não tinha água encanada, nem telefone.

A minha infância foi livre pelos quintais. A minha família é dona de quase toda Chapada, porque eu tinha 65 tios, mais de 300 primos, e todos meus tios tinham monjolo, engenho, roça, fazenda, tropas...”

Ele conta que todos os anos tinha festa de santo, onde haviam as novenas, e diversas tradições culturais mato-grossenses.

Também não havia médico em Chapada, tinha um padre alemão que chegou na década de 40 e era farmaceutico prático, Freusvaldo. E no entorno da igreja, três parteiras, Maria Joana, Dona Maria e Dona Maria Paula, e todos nasciam assim, pelas mãos das parteiras.

Na minha infancia eu via muitas coisas acontecerem, pessoas morrerem de cobra, levaram facada, tiro, acidentes, aquilo me provocou a vontade de ser médico. Tantas mortes por causas bobas…”, revelou Joao Eloy.

Em sua opinião, um bom médico tem que ter ética, respeitar os pacientes, segundo juramento de Hipocritas, e melhor ainda quando interfere na vida do paciente, mudando para melhor seu estilo de vida, alimentação.

Hoje é muito comum o paciente encontrar um médico mais velho, já de cabelos brancos e se sentir mais confortável, pois hoje em dia as vezes o doutor nem olha para cara do paciente, não escreve, tá tudo na internet...falta contato humano”, defende o doutor.

João Eloy conta que muitas vezes, o médico do interior é desacreditado, ainda mais naquela época, não tinha ultrassom, não tinha raio x, não tinha laboratório:

Era tudo diagnóstico cliníco, então o médico tinha que ter um bagagem de conhecimento muito grande!

Ao ser questionado sobre causos da sua época, acontecidos em Chapada dos Guimarães, João relata: 

Quando trabalhava no Hospital Santo Antonio, quem comandava era uma freira, irmã clara, onde aconteceu um caso muito dramático. A mulher teve a criança, e a placenta ficou presa, por causa disso a mulher sangrava muito, já tinha perdido mais de um litro de sangue, e a freira apavorada não conseguia retirar. Então, adentrei na sala de parto, a mulher se cobriu toda com vergonha e disse “não Joãozinho eu te vi criança, você vai ficar contando na rua...eu não vou permitir você mexer nas minhas partes”, por isso eu tive que sair pela vergonha dela. Tivemos então, que fazer uma manobra, a freira desligou a luz falou “ai agora acabou a energia” e então aproveitei a escuridão, calçei a luva e tirei a placenta, e ela nem soube que eu salvei a vida dela

Outro caso, foi quando um amigo de infância do doutor, dono do Hotel Rios o chamou pelo filho que estava com febre.

Examinando a criança, percebi sinais de sarampo, ai comuniquei a ele “isso é sarampo”, nisso ele veio pra cima de mim com muita falta de educação “bem que as pessoas falam que você só gosta de tocar violão, não é um bom médico! Meu filho já teve sarampo”, desapontado eu falei “então tabom, mas pelos meus modestos conhecimentos daqui ha 48h ele vai estar coberto de exantema do sarampo, mas vamos observar”. Fui para casa trsite, passado dois dias ele veio pedir desculpas porque o filho dele estava coberto de exantema.” finalizou João.