A IMPRENSA DE CUYABÁ

Terça-feira, 05 de Novembro de 2024, 10h:46

Jacutinga e Antonio João em vivências museais

Anna maria Ribieor

 Anna Maria Ribeiro Costa

Em 1989, Jacutinga foi para Cuiabá, depois de um ano no litoral norte da Paraíba, em pesquisas de campo sobre cultura material e plantas medicinais do povo indígena Potiguara. Na capital mato-grossense, ficou mais próximo do indigenista Antonio João de Jesus, após sua transferência de Araguaína, Goiás, para Cuiabá, quando integrou os quadros do Museu Rondon da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.

Em 1991, o Museu Rondon foi reaberto sob os cuidados do arquiteto Júlio de Lamonica Freire, coordenador de cultura, e do indigenista José Idevar Sardinha, diretor do museu. A exposição “Nambiquara, os do Cerrado”, parte integrante das festividades dos 21 anos da instituição, promoveu uma mostra de cultura material e apresentação de tocadores de flauta nasal, com o apoio da Artíndia, jurisdicionada à 2ª Superintendência Executiva Regional da Funai. Bem antes, Jacutinga, de conversa em conversa com o cuiabano Antonio João, tomou a decisão de doar 80 artefatos Nambikwara, todos da coleção particular intitulada Fritz Tolksdorf. A coleção foi iniciada por Anna, paixão à primeira vista de Jacutinga, que na aldeia, junto à implantação de um programa experimental de educação escolar indígena (1982-1988), realizou a aquisição, o levantamento e inventário dos artefatos. A doação aconteceu em razão da necessidade de divulgação e acondicionamento adequado com vistas à preservação do acervo, uma parte do patrimônio material e imaterial dos grupos Nambikwara do Cerrado, contatados no início do século XX, por ocasião da implantação das Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas. 

O caderno Vida, do jornal A Gazeta (28.11.1991) escreveu: “A exposição ‘Nambikwara, os do Cerrado’, apresenta documentos, fotos, textos, vídeo e peças da cultura material dos índios de um dos três ramos da nação Nambikwara. A mostra das peças foi dividida em três momentos culturais distintos: objetos tradicionais; objetos em desuso – como por exemplo a panela de barro, substituída pela de alumínio, e o machado de pedra, ocupado pelo de ferro; e objetos pós-contato – máscara de mergulho feita de recortes de câmara de ar para pneu e vidro, e um socador de munição de madeira para socar pólvora e chumbo, intercalados com fibra de algodão dentro do cartucho.”  Sobre esse evento, o caderno DCilustrado, do Diário de Cuiabá (30.11.1991), informou que “a escolha do evento ‘Nambikwara, os do Cerrado’ para reabrir o Museu Cândido Rondon é justamente porque esses índios foram os primeiros que o marechal Cândido Rondon teve contato no cerrado. A recepção oferecida ao marechal foi uma flechada que não foi revidada. Ali começava a defesa do postulado básico de trabalhos pacifistas com nações indígenas”.

A atuação de Antonio João no Museu Rondon por quase três décadas colocou-o no púlpito da Etnografia Indígena e em lugar de prestígio no baíto do povo Boe-Bororo, de quem recebeu um nome de batismo. Não é de estranhar que o indigenista tenha levado o chão da aldeia e de Cuiabá (outrora Boe-Bororo) para as artes plásticas. Com caneta bico de pena de nanquim, ilustrou o livro “Cuiabá, roteiro de lendas” (1985), de Dunga Rodrigues, publicado pela editora da UFMT e com dedicatória do ilustrador: “Para Ana e José Eduardo, por 91 e pelos próximos anos”.

O indigenista e artista plástico também presenteou o casal com uma pintura a óleo sobre tela (0,98 cm x 0,68 cm): uma imagem do ritual Yakuigady do povo Kurâ-Bakairi, composto por vinte e cinco entidades aquáticas que usam máscaras (ovaladas e retangulares, estas de maior número). A saltar da tela, quatro Kwamby, de natureza brincalhona, vestidas com máscaras ovaladas com cabelos e indumentária de broto de buriti, dançam animadamente, cada qual com sua música. Pode-se sentir o aroma de resina fresca da pintura das máscaras e ouvir o som das palhas secas…

Em 1989, Jacutinga foi para Cuiabá, depois de um ano no litoral norte da Paraíba, em pesquisas de campo sobre cultura material e plantas medicinais do povo indígena Potiguara. Na capital mato-grossense, ficou mais próximo do indigenista Antonio João de Jesus, após sua transferência de Araguaína, Goiás, para Cuiabá, quando integrou os quadros do Museu Rondon da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.

Em 1991, o Museu Rondon foi reaberto sob os cuidados do arquiteto Júlio de Lamonica Freire, coordenador de cultura, e do indigenista José Idevar Sardinha, diretor do museu. A exposição “Nambiquara, os do Cerrado”, parte integrante das festividades dos 21 anos da instituição, promoveu uma mostra de cultura material e apresentação de tocadores de flauta nasal, com o apoio da Artíndia, jurisdicionada à 2ª Superintendência Executiva Regional da Funai. Bem antes, Jacutinga, de conversa em conversa com o cuiabano Antonio João, tomou a decisão de doar 80 artefatos Nambikwara, todos da coleção particular intitulada Fritz Tolksdorf. A coleção foi iniciada por Anna, paixão à primeira vista de Jacutinga, que na aldeia, junto à implantação de um programa experimental de educação escolar indígena (1982-1988), realizou a aquisição, o levantamento e inventário dos artefatos. A doação aconteceu em razão da necessidade de divulgação e acondicionamento adequado com vistas à preservação do acervo, uma parte do patrimônio material e imaterial dos grupos Nambikwara do Cerrado, contatados no início do século XX, por ocasião da implantação das Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas. 

O caderno Vida, do jornal A Gazeta (28.11.1991) escreveu: “A exposição ‘Nambikwara, os do Cerrado’, apresenta documentos, fotos, textos, vídeo e peças da cultura material dos índios de um dos três ramos da nação Nambikwara. A mostra das peças foi dividida em três momentos culturais distintos: objetos tradicionais; objetos em desuso – como por exemplo a panela de barro, substituída pela de alumínio, e o machado de pedra, ocupado pelo de ferro; e objetos pós-contato – máscara de mergulho feita de recortes de câmara de ar para pneu e vidro, e um socador de munição de madeira para socar pólvora e chumbo, intercalados com fibra de algodão dentro do cartucho.”  Sobre esse evento, o caderno DCilustrado, do Diário de Cuiabá (30.11.1991), informou que “a escolha do evento ‘Nambikwara, os do Cerrado’ para reabrir o Museu Cândido Rondon é justamente porque esses índios foram os primeiros que o marechal Cândido Rondon teve contato no cerrado. A recepção oferecida ao marechal foi uma flechada que não foi revidada. Ali começava a defesa do postulado básico de trabalhos pacifistas com nações indígenas”.

A atuação de Antonio João no Museu Rondon por quase três décadas colocou-o no púlpito da Etnografia Indígena e em lugar de prestígio no baíto do povo Boe-Bororo, de quem recebeu um nome de batismo. Não é de estranhar que o indigenista tenha levado o chão da aldeia e de Cuiabá (outrora Boe-Bororo) para as artes plásticas. Com caneta bico de pena de nanquim, ilustrou o livro “Cuiabá, roteiro de lendas” (1985), de Dunga Rodrigues, publicado pela editora da UFMT e com dedicatória do ilustrador: “Para Ana e José Eduardo, por 91 e pelos próximos anos”.

O indigenista e artista plástico também presenteou o casal com uma pintura a óleo sobre tela (0,98 cm x 0,68 cm): uma imagem do ritual Yakuigady do povo Kurâ-Bakairi, composto por vinte e cinco entidades aquáticas que usam máscaras (ovaladas e retangulares, estas de maior número). A saltar da tela, quatro Kwamby, de natureza brincalhona, vestidas com máscaras ovaladas com cabelos e indumentária de broto de buriti, dançam animadamente, cada qual com sua música. Pode-se sentir o aroma de resina fresca da pintura das máscaras e ouvir o som das palhas secas…

 

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.