Barras de ouro, além de valores vultuosos, como R$ 12 milhões em honorários advocatícios, e carros de luxo figuraram como pagamentos no esquema de venda de sentenças administrado pelo advogado assassinado Roberto Zampieri, conforme relatório da Polícia Federal.
O desembargador Sebastião de Moraes Filho, um dos alvos da ‘Operação Sisamnes’, que está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, é um dos beneficiários dos ‘presentes’ e Pix encaminhados pelo advogado.
Em um dos casos relatados pela Polícia Federal, a partir de conversas capturadas entre Roberto Zampieri e outros advogados investigados no esquema, bem como o lobista Andreson Gonçalves, o advogado negocia uma decisão favorável ao grupo do megaempresário do agronegócio José Pupin, produtor de algodão.
Sobre o caso, Zampieri apresentou memoriais ao desembargador Sebastião Filho com a intenção deliberada de obter influência em eventual decisão judicial proferida por ele. A negociação começa e, nesse caso, o magistrado pede que seu filho, o advogado Mauro Thadeu Prado de Moraes, também alvo da operação, ingresse na ação. Zampieri comunica ao empresário Valdoir Slapak, que foi alvo da PF.
“Sebastião pediu vista. Contrataram o filho dele, mas vou desmanchar. O da Colombo e o outro da quebra do sigilo deu tudo certo”. O empresário responde: “Boa!!! E Pupin?”. Zampieri explica: “E o do Pupin acabei xe [sic] resolver agora, vai julgar na sessão do dia 28/9, e também resolvi com o Des Sebastião. Tive que acomodar o filho dele”, configurando assim a participação do filho do desembargador como ‘moeda de troca’.
Mais à frente, identificou-se novo diálogo que mostra a sequência das tratativas, já envolvendo valores: “o do Pupin vamos ter que acertar as honrarias do filho dele, s [sic] outra parte havia procurado ele”, diz o advogado.
“Entre os dias 11 e 13 de setembro do ano passado, emergiu possível poderio de Zampieri nos atos do Desembargador Sebastião de Moraes Filho, indicando-se, outrossim, potencial favorecimento a um de seus filhos (assunto tratado mais adiante) como compensação a um êxito judicial alcançado pela parte que Roberto Zampieri representava no processo”, assinala a Polícia Federal.
Barras de ouro aparecem em outro caso sob análise de Sebastião de Moraes Filho e, em conversa pelo WhatsApp com o advogado, o ‘presente’ é oferecido. “...a Polícia Federal fez constar que, em outra conversa, no dia 24 de novembro de 2023, Roberto Zampieri, por meio do Whatsapp, enviou imagem ao contato Desembargador Sebastião do que seriam barras de ouro de 400g”.
Os carros de luxo aparecem como ‘pagamento’ também no caso do produtor de algodão a Zampieri e ao empresário Valdoir Slapak, que resolvem ‘pegar’ os veículos com altos valores: “Preciso acertar contigo nosso valor em aberto. Boa tarde. Peguei esses carros... veja se te interessa.”, diz Slapak. O advogado responde: “Boa tarde. Qual o valor desses carros?”, quando o empresário diz que os ‘pegou’ por R$ 350 (mil).
“Ok. Tá bom! O valor nosso é 600, isso? A diferença você consegue me pagar essa semana?”, responde Zampieri, ao que o empresário questiona se a monta era mesmo R$ 600 mil ou R$ 400 mil.
O advogado, então, responde: “O saldo era 400, mas aí teve o filho do Velho que eu e você acertamos pagar 200 p [sic] Ele, pois ele deixou de atender o filho que estava pedindo em favor do Allan. Não sei se você recorda”.
Pix transferido para Sebastião Filho também constam no relatório. Veja o diálogo:
Des. Sebastião: “Bom dia! ???”.
Roberto Zampieri: “Boa tarde, Desembargador, tudo bem? O PIX está errado, extornou [sic] o valor. Tente mandar o PIX correto que faço agora”.
Des. Sebastião: “Ok”.
A Operação Sisamnes foi deflagrada pela Polícia Federal de Brasília, mas com mandados de prisão, buscas e apreensão, além de afastamentos de funções e medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, contra dez alvos em Cuiabá.