22 de Outubro de 2024

INFRAESTRUTURA E MEIO AMBIENTE Quarta-feira, 08 de Novembro de 2023, 14:49 - A | A

QUEDA DE BLOCOS EM CHAPADA

Mato Grosso não tem trabalho preventivo contra desastres, alerta geólogo

Segundo o geólogo, no caso do Portão do Inferno existem dois pontos de alerta para queda de blocos que precisam ser observados.

Julia Munhoz - PnB on line

queda bloco chapafa

 

A falta de uma política pública de monitoramento e prevenção a desastres em Mato Grosso foi apontada pelo professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e geólogo Caiubi Kuhn como um dos principais fatores de alerta no que se refere à queda de blocos de rocha em localidades como o Portão do Inferno, em Chapada dos Guimarães, ou enchentes em várias regiões do Estado.

Em entrevista ao Jornal da Cultura 90.7, nesta quarta-feira (08.11), o geólogo, que é também coordenador científico do geoparque de Chapada dos Guimarães, explicou que não existe em Mato Grosso uma política pública de prevenção a desastres.

Ele apontou ainda para a falta de um quadro técnico na Defesa Civil, que deveria atuar de forma contínua no monitoramento e prevenção.

O alerta do geólogo ocorre após a divulgação de um estudo produzido pela Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), que indicou o risco de queda de blocos na região do Portão do Inferno, em Chapada dos Guimarães. “Não só Portão do Inferno, mas em outros locais com riscos de desastres não são realizadas [ações preventivas] às vezes por falta de pessoal técnico dentro da Defesa Civil”, explicou Caiubi.

O estudo realizado pela Metamat sugeriu uma série de apontamentos. Segundo o geólogo, no caso do Portão do Inferno existem dois pontos de alerta para queda de blocos que precisam ser observados, principalmente no trecho da Salgadeira até o ponto principal do portão, sentido Chapada dos Guimarães. 

No caso do Portão do Inferno existem dois riscos que precisam ser acompanhados. Um é da queda de bloco dessa escarpa superior e uma outra coisa que precisa ser acompanhada é como está a queda de bloco da escarpa que está embaixo, da inferior. Ali são duas escarpas diferentes, com rochas diferentes”.

Mato Grosso desastres
Foto: Kilila

Caiubi explica ainda que o período de maior risco de queda de blocos no Portão do Inferno é quando inicia a temporada de chuvas. “A rocha, na hora que molha, ela fica mais pesada, então é mais fácil dela cair. Esses períodos, principalmente relacionados a chuvas muito intensas posterior à época de seca, são períodos mais comuns para queda de blocos”.

De acordo com o geólogo, a situação de alerta em Mato Grosso não se restringe ao Portão do Inferno e não é limitado ao período das chuvas. “São vários lugares no estado que vão ter inúmeros tipos de problemas diferentes. Existem formas preventivas para todos os tipos de desastres. Seja um desastre que seja relacionado a movimento de massa ou desastres relacionados a movimentos hidrológicos extremos, seja um extremo de seca ou um extremo de pluviosidade elevada”.

 

Na análise do especialista, o que falta é uma política pública contínua de monitoramento e prevenção a desastres em Mato Grosso, para evitar que casos como o que ocorreu em 2008, quando um bloco rochoso de aproximadamente 12 metros de comprimento (equivalente ao tamanho de um ônibus) despencou do paredão da cachoeira do Véu de Noiva, no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, que resultou na morte de uma jovem de 17 anos e deixou várias pessoas feridas.

“Que isso seja monitorado e que tenha um esforço do Governo de forma contínua para evitar esses tipos de desastres. E isso a gente não vê acontecendo hoje. Não acontece no Estado de Mato Grosso. Quando tem algum estudo, fica engavetado e vai voltar a ser tema de novo quando realmente cair algum bloco de novo perto da estrada, chamar a atenção de quem estiver passando ali. Não existe um processo de monitoramento hoje”.

Deslizamento de terra

Em novembro de 2021 foi registrado um desmoronamento de terra na MT-251, estrada de Chapada dos Guimarães, na região do Portão do Inferno. Na época, um dos paredões da parte superior deslizou com a água das chuvas e a estrada chegou a ser interditada.



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