Tenho participado de inúmeros grupos de debates sobre os espaços de memórias em Mato Grosso e confesso que nunca me dou por satisfeito pela situação política de conservação e preservação de nossas memórias históricas.
Segundo informações da SECEL Secretaria e Estado de Cultura, Mato Grosso possui aproximadamente 52 museus em 33 municípios, parte deles ainda desconhecida pelo grande público.
De uma maneira geral, esses museus estão em condições precárias, sem infraestrutura física adequada para funcionamento e exposição, sem profissionais habilitados e capacitados, mobiliários para acondicionamento e expografia, falta segurança, curadoria e um grande plano de Museologia no Estado com recursos e política pública.
O que chamamos museus nesses 33 municípios, em grande parte, são na verdade pequenas iniciativas de “gabinetes de curiosidades”, como existia no sec. XIX. Ou seja, um amontoado de objetos antigos expostos, sem uma organização museológica.
Um bom exemplo, é o MISC- Museu de Imagem e do Som da Prefeitura de Cuiabá que foi criado com o louvável propósito de abrigar acervos audiovisuais da capital.
Por falta de um plano museológico na implantação o museu começou a receber acervos aleatórios a sua finalidade, sem uma curadoria especializada na gestão e acabou virando um gabinete de curiosidades.
Ainda em Cuiabá, outros dois museus municipais sobrevivem as duras penas, enfrentando enormes dificuldades para manter as portas abertas: O Museu da Caixa D’água Velha que possui um pequeno acervo e o Museu do Rio Alfredo Rids Skaff que perdeu seu acervo ao longo dos anos e é atualmente um museu apenas no nome.
No Primeiro Batalhão da Polícia Militar no Bairro Porto, também existiu no passado um pequeno Museu de História da Polícia Militar, criado por ato oficial do governo SESP-MT. Que hoje funciona na Praça das Bandeiras.
Outro exemplo emblemático é o Centro Cultural de Rosário Oeste, um casarão antigo que abriga o museu da cidade com rico acervo que se encontra fechado há mais de 3 anos porque a fachada e telhado da frente cedeu com as chuvas e está interditado desde então sem reformas.
O Estado de Mato Grosso SECEL, possui cinco Museus oficiais: História Natural, História de Mato Grosso, Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, Museu de Arte e Pinacoteca de Mato Grosso e Museu dos Governadores.
Desses apenas dois estão em funcionamento, Museu de Arte Sacra e História Natural, os demais ou estão desativados por falta de estrutura ou fechados para reforma há mais de 8 anos.
Interessante que os dois museus que estão em funcionamento adequadamente, Arte Sacra e História Natural são eficientemente administrados por instituições do terceiro setor que foram selecionados por edital de concorrência.
Na esfera federal, o único museu de Mato Grosso dedicado aos povos indígenas localizados na UFMT, encontra-se fechado desde a pandemia de 2019, por falta de funcionários e manutenção no espaço físico. Lembrando que o Estado é o segundo maior da federação em número de povos indígenas.
Conheci inúmeros acervos particulares valiosíssimos que as famílias desejam doar para instituições de salvaguarda pública. Mas consenso entre os proprietários a desconfiança das instituições pela falta completa de segurança e zeladoria dos bens. Até porque são inúmeros os relatos de furto e sumiço de preciosidades dos acervos de muitos museus.
Poderíamos ter acervos muito mais interessantes se tivéssemos um melhor arranjo e estruturação das políticas públicas para esse setor.
Precisamos urgentemente ter uma politica mais robusta de investimentos nas três esferas afim de instituir uma rede forte de museus de Mato Grosso envolvendo as prefeituras.
As instituições formadoras institutos estaduais, federais e UFs públicas de Mato Grosso precisam formar profissionais museólogos e tecnólogos especializados em educação patrimonial dedicados a organização e gestão desses acervos e um plano emergencial de qualificação dos profissionais já existentes.
Enquanto milhões de reais de recursos públicos do Estado via emendas parlamentares são aplicados em festas e shows efêmeros com artistas nacionais da indústria cultural, não dispomos de recursos mínimos para manutenção e apoio aos museus de Mato Grosso.
Espero que esse artigo sirva como provocação para uma reação do Conselho Estadual e dos municipais de cultura e demais secretários de cultura de todo Mato Grosso para que haja urgentemente políticas efetivas de museus e editais de financiamentos dirigidos pra esse setor.
Um primeiro passo seria colocar a temática no hall dos debates dos planos municipais de cultura que serão realizados esse ano e nos editais vindouros do Estado e federais como a Lei Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Acho que isso é problema nosso!
Suelme Fernandes é analista político.