22 de Outubro de 2024

POLÍCIA Quinta-feira, 30 de Maio de 2019, 06:20 - A | A

OPERAÇÃO MANTUS: Rixa entre comendadores ressuscitaria pistolagem em MT, alerta PC

SUELEN ALENCAR E TARLEY CARVALHO - FolhaMax

Olhar Direto

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A disputa entre João Arcanjo Ribeiro e Frederico Müller Coutinho pelo controle do Jogo do Bicho no território mato-grossense chegou ao ponto de ressuscitar a prática de pistolagem, como no início do século, marcado pela execução do empresário e jornalista Sávio Brandão e do radialista Rivelino Brunini, ambos assassinados em plena luz do dia. Pelo controle de Juara (695 km de Cuiabá), dois “capangas” de Arcanjo teriam sequestrado, ameaçado, extorquido e tomado máquinas usadas na jogatina de um funcionário da FMC, pertencente a Müller, concorrente da organização de Arcanjo, a Colibri.

A informação foi revelada nesta manhã de quarta-feira (29) pela Polícia Judiciária Civil (PJC), em coletiva de imprensa para prestar informações da operação “Mantus”, deflagrada contra duas organizações criminosas acusadas de controlar o Jogo do Bicho em Mato Grosso. “Havia um acirramento por disputa de território, inclusive foi o que motivou uma das extorsões mediante sequestro, entre ela [a FMC] e a Colibri que a gente não sabe aonde ia parar. Então não é só uma contravenção penal, tem muito mais coisas aí por detrás porque movimenta muito dinheiro”, disse o delegado Luiz Henrique Damasceno.

Além deste caso envolvendo o sequestro de um dos funcionários da FMC, o delegado chegou a mencionar um caso com outra vítima. Um homem que teria deixado o esquema e que, em resposta, teve o carro metralhado.

Contudo, os delegados presentes na coletiva de imprensa não deram mais detalhes sobre o caso, se limitando a informar sua ocorrência. A Operação Mantus foi deflagrada hoje para desbaratar esquema de Jogo do Bicho, prática ilegal, em Mato Grosso.

As investigações da PJC foram motivadas por uma denúncia, que informou a permanência da jogatina na cidade de Cuiabá. Por meio das investigações, os policiais se depararam com um quadro bem mais amplo, com extensão em todo o estado de Mato Grosso, sendo este mercado controlado por duas organizações: a Colibri e a Ello, a primeira pertencente a João Arcanjo Ribeiro e a segunda ligada ao Grupo FMC, de Frederico Müller Coutinho.

As investigações apontam que, somente por transações bancárias, as duas organizações movimentaram no último ano cerca de R$ 20 milhões. No total, policiais cumpriram hoje 63 ordens judiciais, sendo 33 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão.

Entre os detidos preventivamente está João Arcanjo Ribeiro; seu genro, Giovanni Zem Rodrigues; e Frederico Müller Coutinho. A polícia também prendeu duas contadoras da Ello FMC, presas preventivamente em Cuiabá. São elas: Indineia Moraes Silva e Madeleinne Geremias de Barros. Ambas passarão por interrogatório hoje, a partir das 14h.

A polícia não revelou o nome dos outros investigados que foram presos preventivamente. Porém, revelou que os mandados de prisão foram cumpridos em Cuiabá, Várzea Grande, Tangará da Serra (241 km de Cuiabá), Sinop (479 km de Cuiabá), Sorriso (397 km de Cuiabá), Campo Verde (141 km de Cuiabá), Rondonópolis (217 km de Cuiabá) e Rio de Janeiro. Mandados de prisão podem ter sido cumpridos em outras cidades também, mas a informação não foi confirmada pela polícia.

Na residência de Arcanjo, os policiais apreenderam mais de R$ 200 mil, relógios importados e documentos que, em tese, comprovam seu envolvimento direto na organização criminosa. Já na casa de Coutinho, a polícia apreendeu pouco mais de R$ 1,7 mil, que foi justificado como para despesas corriqueiras, além de relógios importados.

Os policiais também acreditam que Arcanjo, que controlava o Jogo do Bicho nos anos de 1980 e 1990 nunca deixou de comandar a jogatina no estado. As investigações apontam que, durante o tempo em que esteve preso, seu genro tocou os negócios. Quando Arcanjo deixou a prisão, no início do ano passado, depois de15 anos preso, ele teria retomado a liderança do esquema, mas sem desbancar o genro, compartilhando a liderança.

Outra informação levantada pela investigação é referente à uma admiração de Coutinho por Arcanjo, que o motivou a seguir os passos do “rei dos bichos”, buscando, inclusive, conquistar o mesmo título que Arcanjo, tornando-se também comendador.

A admiração, inclusive, segundo as investigações, fez com que Coutinho montasse uma organização mais articulada, com melhor estrutura e “mais estilosa” que a de Arcanjo.

“A organização do Frederico, nos últimos dois anos, a gente tem certeza que atuava e ela estava atuando no mesmo sentido da organização do Arcanjo. Como eu disse anteriormente, até o título de comendador, o senhor Frederico Coutinho buscou conquistar ali. Hoje nós podemos dizer que foram presos dois comendadores”, afirmou o delegado Damasceno durante a coletiva.

A investigação também concluiu que Arcanjo teria usado a empresa que gerencia, o Estacionamento Milênio, para praticar os crimes levantados pela operação. Isso porque, por meio do monitoramento eletrônico, os policiais identificaram que o bicheiro se encontrava no local no momento em que o estabelecimento foi utilizado para recebimento de dinheiro, supostamente, oriundo do Jogo do Bicho.

Eles serão indiciados por organização criminosa, lavagem de dinheiro, contravenção penal do jogo do bicho e extorsão mediante sequestro.

A operação recebeu o nome “Mantus” por influência da Mitologia Etrusca. Mantus é o deus do mundo dos mortos, no vale do Rio Pó, e conhecido como o deus do azar, pois chamava atenção de suas vítimas por meio de jogos, apostando e roubando suas almas.

 



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