Um relatório oficial do governo dos Estados Unidos voltou a colocar o Brasil entre os países com maior presença de produtos falsificados no mercado internacional. O documento, divulgado dias antes do tarifaço anunciado pelo ex-presidente Donald Trump, cita nominalmente a Rua 25 de Março, em São Paulo, como um dos centros mais emblemáticos da pirataria mundial.
A denúncia ganhou destaque no Jornal Nacional, da TV Globo, que exibiu na noite de sexta-feira (5) uma reportagem mostrando como funciona o comércio ilegal na região central da maior cidade do país.
Na reportagem, a equipe do Jornal Nacional percorreu a 25 de Março, onde ambulantes vendem roupas, calçados e acessórios com aparência de marcas famosas por uma fração do preço original. Em entrevista, uma vendedora afirma: “Esse é o mais perto do original que tem”. Questionada sobre a diferença de preço, reconhece: “O original sai R$ 120, esse aqui é R$ 10”.
Apesar da aparência de uma prática comercial comum, a reportagem reforça que a venda de produtos falsificados é crime. E o impacto vai muito além do bolso do consumidor. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria, o mercado ilegal gerou um prejuízo de quase R$ 500 bilhões à economia brasileira só em 2024. O valor representa o que as empresas formais deixaram de vender e os impostos que não foram arrecadados.
Em entrevista ao telejornal, o presidente do fórum, Edson Vismona, destacou que a pirataria atinge diversas frentes:
“Deixam de gerar empregos, de atrair novos investimentos. Afeta a saúde e segurança de quem consome produtos de baixa qualidade. E enfraquece o setor formal, que investe, que gera emprego. Além disso, o mercado pirata vem sendo dominado cada vez mais por organizações criminosas e milícias. É uma ameaça também à segurança pública.”
O relatório dos EUA reconhece avanços na fiscalização brasileira nos últimos anos, mas alerta para a necessidade de medidas mais firmes — tanto no comércio físico quanto no digital. A menção à 25 de Março como “mercado notório” acendeu o alerta sobre a visibilidade internacional do problema.

Mas, como mostrou o Jornal Nacional, o comércio ilegal não é exclusividade do Brasil. Em cidades como Nova York, também é possível encontrar produtos falsificados à venda em bancas improvisadas nas ruas. Especialistas afirmam que o aumento de tarifas sobre produtos importados, como proposto por Donald Trump, não resolve o problema — e pode até piorá-lo, ao tornar os itens originais ainda mais caros e inacessíveis.
A União dos Lojistas da 25 de Março divulgou nota lamentando a citação no relatório americano. A entidade afirmou que a maioria dos comerciantes da região atua legalmente há décadas e que “pontos isolados” com produtos irregulares existem, mas são constantemente fiscalizados em parceria com o poder público. “Não é justo generalizar a região”, diz o texto.