Nelson José Vigolo, presidente do Grupo Bom Jesus e suposto sócio oculto da empresa de gestão patrimonial
Fontes a que a Folha do Estado teve acesso apontam que o Grupo Bom Jesus, um dos maiores do setor de agronegócio em Mato Grosso, teria praticado fraude em seu processo de recuperação judicial iniciado há oito anos. Segundo as informações, o grupo utilizou uma empresa de gestão patrimonial sediada em Cuiabá como fachada para a compra de suas próprias dívidas, a valores muito inferiores aos estipulados no plano de recuperação, o que prejudicou severamente os credores e, em alguns casos, resultou na falência deles.
Com sede em Rondonópolis, o Grupo Bom Jesus entrou em recuperação judicial em 2016 com uma dívida estimada em R$ 2,6 bilhões, sendo a maior parte em dólares. No ano anterior, o grupo, que atua na produção agrícola e revenda de insumos, registrou faturamento de R$ 2,3 bilhões. A alta do dólar e a inadimplência de clientes no setor de insumos elevaram o passivo a um nível que inviabilizou a administração da empresa, levando à recuperação judicial.
No ano seguinte, uma nova controvérsia emergiu nos tribunais. A Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) determinou o encerramento da recuperação judicial do grupo. No entanto, credores como Banco Bradesco S.A., Banco Santander, Banco Rabobank Internacional Brasil S.A., RF Luxembourg S.À.R.L., Cooperative Rabobank U.A. e o Banco Latinoamericano de Comércio Exterior S.A., entre outros, recorreram da decisão do Juízo da 4ª Vara de Rondonópolis, que declarou o cumprimento do plano de recuperação judicial. Os credores argumentaram que nem o administrador judicial nem o Ministério Público foram notificados quanto ao cumprimento do plano antes de o Juízo proferir a sentença.
De acordo com novas informações, o grupo teria usado a empresa de gestão patrimonial para atuar de forma fraudulenta, apresentando propostas para compra das dívidas dos credores a valores muito inferiores aos previstos no processo. Nelson José Vigolo, presidente do Grupo Bom Jesus e sócio oculto da empresa de gestão patrimonial, é apontado como o responsável pelo esquema de compra fraudulenta das dívidas. Fontes informam ainda que Vigolo teria dois sócios nessa empresa, como “testas de ferro”, que operariam a fraude.
O nome de Nelson Vigolo aparece vinculado a 702 processos no sistema Jusbrasil, incluindo uma delação premiada na Bahia, onde a Polícia Federal (PF) investiga um esquema de compra de sentenças no Tribunal de Justiça do Estado. Na Operação Faroeste, a delação de Vigolo resultou no afastamento de juízes e desembargadores, levando a PF a identificar conexões com advogados, magistrados e fundos de investimentos em Mato Grosso, suspeitos de participação no esquema. Para evitar a prisão, Vigolo teria devolvido R$ 20 milhões relacionados à compra de sentenças, além de colaborar com a investigação.
Essas controvérsias não impediram, entretanto, que o Grupo Bom Futuro recebesse o perdão de uma dívida de R$ 143.091.861,08 junto à Fazenda estadual. O valor é referente à comercialização de algodão sem recolhimento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) entre as safras de 2004/2005 e 2009/2010, conforme descrito na resolução 211/2023 do Codem, publicada no Diário Oficial do Estado em 10 de março, que oficializou a renúncia fiscal.
Com as novas denúncias, as atenções voltam-se novamente para o empresário e mega produtor rural. Segundo as informações apuradas pela Folha do Estado, as ações de Vigolo teriam prejudicado seriamente os credores que aderiram ao plano de recuperação judicial do Grupo Bom Jesus. Ainda não se sabe o valor exato da fraude que teria sido aplicada, mas, considerando o total da dívida declarada (R$ 2,6 bilhões), as suspeitas apontam que o montante pode facilmente ultrapassar R$ 1 bilhão. A denúncia deve desencadear uma ampla investigação com sérias implicações criminais para os envolvidos na fraude bilionária.