26 de Dezembro de 2024

OPINIÃO Terça-feira, 24 de Dezembro de 2024, 07:13 - A | A

Mudanças Climáticas: Cidades Sustentáveis (Parte 01)

Eduardo Cairo Chiletto

art eduardo chilleto

 Eduardo Cairo Chiletto

As cidades têm um papel fundamental a desempenhar no combate às alterações climáticas.

Este artigo pretende:

Mostrar como as sinergias inteligentes + verdes = sustentável beneficiam as cidades e apoiam as agendas globais de desenvolvimento sustentável nas áreas de:

  • Infraestrutura e serviços de gerenciamento sustentável de resíduos;
  • Edifícios e infraestrutura ecológicos;
  • Mobilidade verde inteligente; e
  • Cidades inteligentes e resilientes ao clima.

Lembrando que a expressão INTELIGENTE é como usam a tecnologia de TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação e AI – Inteligência Artificial de forma ética, a serviço do bem comum e das pessoas, respeitando a dignidade humana e a privacidade,

Segundo a publicação do Green Building Council, a indústria da construção é frequentemente vista como uma vilã na luta contra as mudanças climáticas. Vejam a energia gasta para produzir, por exemplo, cimento: A energia térmica é consumida principalmente na queima de combustíveis para aquecer os fornos rotativos, que são alimentados por fontes não renováveis, como o petróleo e o carvão e; a energia consumida na produção de cimento representa entre 40% e 70% do custo de produção.

Ou seja, a Indústria da Construção é responsável por emissões de carbono globais, tanto em operações de edifícios (carbono operacional) quanto no carbono incorporado nos materiais e processos de construção, esta indústria tem um impacto significativo no meio ambiente.

Embora as cidades sejam contribuintes significativos para as mudanças climáticas, respondendo por quase três quartos do total de emissões, elas também são centros de práticas inovadoras e sustentáveis. Repito: PRÁTICAS INOVADORAS E SUSTENTÁVEIS.

Desta forma, a chave para combater as mudanças climáticas pode residir em adotar estratégias de construção sustentável que podem mitigar esses efeitos através de materiais e métodos construtivos inovadores.

Cidades sustentáveis são fundamentais para enfrentar os desafios da urbanização, mudanças climáticas e desigualdades sociais.

Com base nas diretrizes da ONU – Organização das Nações UnidasODS 11 cujo objetivo é: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveise suas 10 metas. Os Arquitetos e Urbanistas podem projetar e urbanizar essas cidades buscando minimizar impactos ambientais, utilizando recursos de forma eficiente e promovendo transportes e infraestruturas resilientes.

Por meio de investimentos climáticos, planejamento urbano e políticas robustas, as cidades podem desempenhar um papel fundamental na redução de emissões e no aumento da resiliência.

planejamento urbano sustentável está intimamente relacionado a preservação de ecossistemas, economia circular e gestão participativa, promovendo equilíbrio entre desenvolvimento ambiental, a economia e a justiça social.

Por que as cidades são importantes na luta contra as mudanças climáticas?

Como Arquiteto e Urbanista que sou, sei que as cidades abrigam mais da metade da população global totalizando 4,4 bilhões de habitantes, e essa população urbana deve dobrar até 2050.

As cidades consomem recursos substanciais como energia e água. E globalmente as cidades ocupam somente 3% da superfície do planeta, mas representam até 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono segundo a ONU.

Embora as cidades sejam contribuintes significativos para a mudança climática devido ao seu rápido crescimento e altas emissões, elas também servem, como já dito, como centros de inovação e soluções. Na verdade, as cidades fornecem amplas oportunidades para implementar práticas sustentáveis ​​e reduzir as emissões de GEE – Gazes do Efeito Estufa.

Dos quais o alinhamento com temas-chave são fundamentais conforme abaixo:


– Design e Tecnologia: Investigando a interseção de inovação e sustentabilidade na arquitetura e construção;
– Área Urbana: Explorando a recuperação de recursos urbanos e a transformação de cidades em ecossistemas autossustentáveis;
– Participação Social: Examinando estratégias para um envolvimento significativo da comunidade nos processos de projeto e construção (como aconteceu em Medellin – Colômbia);

– Planejamento Urbano: ambicioso e políticas robustas;
– Infraestrutura verde e resiliente ao clima: melhorando a eficiência energética dos edifícios, expandindo o acesso à energia limpa e promovendo o transporte de baixo carbono; e
– Aprimoramento de espaços verdes urbanos: para mitigar o efeito ilhas de calor, por meio de parques e jardins urbanos.

Uma ação da COP 28 – Conferência das Partes é a que se relaciona em “semear conhecimento: Rumo a cadeias de valor sustentáveis – que envolveriam a capacitação nas mais diversas áreas do conhecimento relacionadas às mudanças climáticas”, como por exemplo capacitar os acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia para: cidades sustentáveis = verdes + inteligentes, pois como já dito acima, as mesmas apesar de ocuparem somente 3% da superfície do planeta, representam até 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono.

Por que precisamos de INFRAESTRUTURA SUSTENTÁVEL?

Aspectos Sociais:

1. Capacitar a comunidade local;

2. Melhorar a saúde da comunidade reduzindo os gases do efeito estufa e a emissão de carbono;

3. Garantir disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todos;

4. Criar infraestrutura resiliente e fomentar a inovação.

Aspectos Ambientais:

1. Gerar ar mais limpo para a população;

2. Reduzir os resíduos sólidos;

3. Reduzir o impacto negativo do desenvolvimento no ecossistema;

4. Diminuir o consumo de energia para que a emissão de carbono seja reduzida;

5. Conservar recursos naturais;

6. Reduzir o consumo de água;

Aspectos Econômicos:

1. Promover o crescimento sustentável, emprego produtivo e trabalho decente para todos;

2. Garantir o acesso à energia barata e limpa para todos;

3. Reduzir o custo da energia;

4. Reduzir o custo da água;

Entendimento do Contexto Local:

  • Integrar parte do edifício com a comunidade, permitindo que os espaços sejam usados pela comunidade (exemplo: Medellin – Colômbia).

ALGUNS EXEMPLOS:

Paris/França – Paris foi palco dos Jogos Olímpicos de 2024. Paris 2024 estabeleceu um padrão de como a tecnologia e a inovação podem minimizar o impacto ambiental.

  • A prefeitura implantou mudanças para reduzir a dependência de veículos e incentivar uma vida urbana mais verde.
  • Investimentos: Mais de 100 ruas foram fechadas aos carros. Os custos de estacionamentos foram triplicados. Quase 50 mil vagas de estacionamento foram excluídos e mais de 1,3 mil ciclovias foram construídas.
  • Muitas dessas modificações foram inspiradas pelo conceito de “CIDADE DE 15 MINUTOS”, onde serviços essenciais são acessíveis por meio de uma curta caminhada ou pedalada. São elas: moradia, trabalho, cuidados médicos, compras essenciais, educação e lazer cultural e esportivo.

Tudo vai partir da ESCOLA, que se transformará na “capital dos bairros”. Reformadas e com mais espaços verdes, elas passarão a abrir aos fins de semana e fora dos horários de aula para atividades esportivas e culturais. Estacionamentos podem virar garagem de bicicletas.

NORUEGA – Construção em Madeira

Uma demanda global surgiu por uma mudança de paradigma na indústria da construção. Em favor de práticas sustentáveis, há um foco crescente em aplicações de madeira.

madeira é apontada como uma matéria-prima promissora para alcançar a circularidade no setor da construção, proporcionando uma oportunidade de mudar para métodos de construção que são naturalmente renováveis.

Na foto abaixo um edifício na Noruega de 18 andares sendo construído com toda estrutura em madeira.

No contexto atual, acadêmicos e profissionais começaram a procurar formas de implementar estratégias de design para circularidade, visando uma utilização mais circular da madeira na construção. Nos últimos 20 anos, Design para Desmontagem e Reutilização tem sido um campo de conhecimento crescente.

Esta é parte da matéria publicada por minha filha Tatiana de Oliveira Chiletto – Doutoranda na Bélgica em Construção em Madeira. Design para Desmontagem e Reutilização: Uma Síntese.

ESTOCOLMO – Suécia

maior cidade de madeira do mundo… Tudo será construído em madeira. Uma alternativa ecológica ao concreto e ao aço. Madeira projetada à prova de fogo. É mais segura que o açoArmazena Dióxido de Carbono o que ajuda a reduzir as emissões e proporciona melhor qualidade do ar interior.

A cidade terá 7 mil escritórios e 2 mil residências. O projeto de 250 mil metros quadrados está sendo construído na Sickla. Um bairro que abriga mais de 400 empresas.

A Suécia é coberta por cerca de 70% de florestas com manejo sustentável, repito: MANEJO SUSTENTÁVEL, o que faz dela um país privilegiado para inovar com madeira. Os primeiros edifícios deverão ser construídos até 2027. Serão os edifícios de madeira o futuro do Planejamento Urbano Sustentável?

Brasil – USP – Possui inclusive Mestrado na área: Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia e com publicação: Projetar e Construir com Madeira.

Exemplo: Brasil – São Paulo

Noah vai construir primeiros prédios de madeira na Faria Lima…

O material, também conhecido como mass timber, consiste em várias camadas de madeira coladas que podem tomar a forma de pilares, vigas, lajes e paredes. (Foto abaixo)

MATO GROSSO – Cuiabá:

Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe foi construída com sua estrutura em madeira. Igreja esta frequentada pelo meu filho Bernardo de Oliveira Chiletto (@chilettotf – Chiletto Treino Funcional) e minha nora Claudia Stocker no qual ambos ajudam a paróquia.

BRASIL – Governo Federal institui o Programa Cidades Verdes Resilientes – Decreto nº 12.041 de 06/06/2024

O programa inovador tem como principal objetivo aumentar a qualidade ambiental e a resiliência das cidades brasileiras diante dos impactos causados pela mudança do clima, promovendo um planejamento urbano mais sustentável e consciente. Além disso, o programa estimula práticas sustentáveis que contribuem para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e valoriza os serviços ecossistêmicos proporcionados pelo verde urbano, como áreas verdes, parques e jardins.

Para atingir essa meta, o programa se baseia em três pilares fundamentais:

  1. Integração de Políticas Urbanas, Ambientais e Climáticas;
  2. Estímulo às Práticas Sustentáveis;
  3. Valorização dos Serviços Ecossistêmicos do Verde Urbano.

O Programa Cidades Verdes Resilientes representa um avanço significativo na política ambiental e urbana do Brasil. Ao integrar práticas sustentáveis e valorizar os ecossistemas urbanos, o programa aponta para um futuro em que as cidades brasileiras são sinônimos de sustentabilidade, resiliência e qualidade de vida.

Como já dito no artigo anterior, mas vale relembrar aqui, em Mato Grosso a parceria do Governo com a ONU através do programa PAGE – Partnership for Action on Green Economy (fui o coordenador nacional de projetos da PAGE (2018/2023)) via PNUD – Programa das Nacões Unidas para o Desenvolvimento, criamos: Implantar padrões de sustentabilidade para a Construção e Reforma de Prédios Públicos no Estado, com foco na EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HÍDRICA.

OPORTUNIDADE: A busca da sustentabilidade nas edificações é uma constante cada vez mais presente na arquitetura no mundo todo, e em Mato Grosso está se mostrando como um paradigma que adquire cada vez mais força, despertando o interesse de todos os setores ligados à área de construção civil, o setor que junto com o agronegócio, mais emprega mão de obra, os quais enxergam nele benefícios tanto ambientais quanto sociais e econômicos.

IMPACTO DIRETO:

1. Promoverá a execução de edifícios inteligentes e a renovação sustentável dos edifícios públicos, evitando o uso desnecessário de energia, água e recursos;

2. Promoverá para o governo de Mato Grosso uma estratégia de implementação de subsídios para a produção de normas que estabeleçam parâmetros e prazos para atendimento dos critérios para construções sustentáveis;

3. Estabelecerá indicadores para monitoramento do desempenho dessas obras/reformas de acordo com os critérios estabelecidos;

Importante ressaltar que CONSTRUÇÃO VERDE se refere tanto a uma estrutura quanto à aplicação de processos que são ambientalmente responsáveis ​​e eficientes em termos de recursos ao longo do ciclo de vida de um edifício, que vai do Planejamento até a Demolição: do planejamento ao projeto, construção, operação, manutenção, renovação e demolição.

E ainda temos como já dito no artigo anterior na parceria PAGE/Governo de Mato GrossoImplantar padrões de sustentabilidade para a Construção e Reforma de Prédios Públicos no Estado, com foco na EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HÍDRICA, que trata das Cidades Sustentáveis: Mudanças Climáticas. Projeto este elaborado pela Arquiteta e Urbanista, pesquisadora colaboradora da FAU-UNB – Universidade de Brasília: Paula Lelis Rabelo Albala. Inclusive com a elaboração de uma Cartilha Verde/MT com: Orientações para Construções Sustentáveis no Estado de Mato Grosso. E que vou parabenizá-la neste artigo publicamente pelo excelente trabalho realizado.

IMPORTANTE: a CARTILHA apresenta os parâmetros e diretrizes de sustentabilidade que podem ser aplicados nos projetos, bem como princípios de arquitetura bioclimática que podem ser incorporados em cada zona bioclimática do Estado de Mato Grosso. Os parâmetros e diretrizes foram agrupados em doze categorias, a saber:

  1. Processo de projeto integrado;
  2. Entorno e implantação;
  3. Mobilidade e acessibilidade;
  4. Vegetação;
  5. Materiais e sistemas construtivos;
  6. Canteiro de obras;
  7. Energia;
  8. Água;
  9. Resíduos de uso e operação;
  10. Conservação e manutenção;
  11. Conforto ambiental; e
  12. Qualidade do ambiente interior e saúde.

É importante parabenizar o PNUD pelo trabalho quem vem desenvolvendo onde está auxiliando os esforços de ação climática em áreas urbanas e também mais uma vez… Meus parabéns a Arquiteta e Urbanista Paula Lelis Rabelo Albala pelo excelente trabalho desenvolvido e pelo curso que foi ministrado aos gestores públicos na plataforma da Escola de Governo do Estado de Mato Grosso, pela sua Tutoria do Curso de formação online no tema da “Cartilha e Manual sobre Construções Verdes no Estado de Mato Grosso“.

Os desafios que a humanidade enfrenta só podem ser resolvidos global e coletivamente. Mas o futuro está em nossas mãos.

É preciso mais que sonhar… É preciso AGIR para a construção de um futuro melhor e mais justo. É urgente identificarmos as questões prioritárias, refletirmos sobre a possibilidade de atuação e construirmos processos organizados e colaborativos de participação da sociedade para a construção coletiva a fim de que possamos compatibilizar o crescimento socio-econômico com as questões ambientaisMitigar as mudanças climáticas, protegendo o meio ambiente com uma economia de baixo carbono, e sobretudo na GARANTIA do emprego pleno/produtivo e trabalho decente/digno para todos.

Volto a dizer: Como aprendi ainda pequeno com meus amados e falecidos pais (Carlos Ricardo Chiletto e Yara Cairo Chiletto): “Palavras o vento as leva. Ação leva ao coração“. Além de sonhar com um mundo melhor para nossos filhos e gerações futuras… Precisamos AGIR.

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré: Para não dizer que não falei das flores).

Na próxima semana a parte 02 deste artigo “Cidades Sustentáveis“cujo tema é: Cidades Verdes



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