Com o conforto de uma casa inteira, a plataforma de aluguéis por temporada AirBnb faz sucesso para os turistas que desejam mais liberdade em sua viagem. Em Mato Grosso, a cidade turística com mais expressão do negócio é Chapada dos Guimarães (a 67 km de Cuiabá), com cerca de 422 imóveis disponíveis para locação, divididos em casas, quartos e chácaras completas. Entretanto, o boom de unidades para locação por temporada afeta a oferta de propriedades para longa duração, fato que afasta moradores da região e dificulta o acesso a moradia.
De acordo com o presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso (Secovi-MT) Marco Pessoz, a retirada dos imóveis do mercado imobiliário tradicional para o aluguel de temporada faz com que, os poucos que sobrarem, aumentem de preço.
“Quanto mais imóveis forem retirados da oferta, essas poucas unidades ficarão com um valor mais alto para a locação de longa temporada. No AirBnb, isso pode acontecer inversamente. Quando você tem uma super oferta, o preço cai e o locatário deve escolher um outro valor mais competitivo”, explica.
O AirBnb é uma plataforma de hospedagem que oferece estadia por um preço mais em conta do que em hotéis, prometendo mais conforto e privacidade. Dentro do sistema, o proprietário cadastra seu imóvel e o coloca disponível para aluguel a partir de sua disponibilidade.
De acordo com o próprio site do AirBnb, há pelo menos 30 imóveis em uma distância de até dois quarteirões da praça Dom Wunibaldo, no centro de Chapada. O valor da diária do aluguel, por sua vez, vai de R$ 377 até R$ 2,8 mil.
A tendência para AirBnbs em Mato Grosso é de expansão. Recentemente, a plataforma tem ganhado mais adeptos em outros municípios, como a própria Capital e Nobres (a 124 km de Cuiabá). Os preços baixos, em comparação a estadia de um hotel, colaboram para que a modalidade ganhe espaço e fãs.
“É uma atividade que está crescendo. Quanto mais eventos, mais atividades que atraiam as pessoas, mais é preciso atender as necessidades desse público. A pessoa busca preço. Buscando preço, a pessoa vai buscar um imóvel que possibilite ele fazer as vontades dela”, completa o presidente do Secovi-MT.
Já no caso de imóveis cujo contrato é de moradia, sua existência é quase nula. Segundo informações apuradas pelo , o preço médio é de R$ 2,5 mil ao mês para casas no bairro Bom Clima, a 1,5 km da praça.
Dessa forma, os proprietários veem a oportunidade de ganhar o valor de um de aluguel mensal em um único final de semana. Isso faz com que mais proprietários peçam as casas de seus inquilinos e as convertam em AirBnb.
A guia de turismo e turismóloga Natally Neves explica que, mesmo tendo a maioria dos trabalhos em Chapada, não reside no município por falta de casas para alugar. Segundo ela, a busca por uma residência fixa já acontece há dois anos.
“Eu preciso morar lá, porque meu trabalho é a maioria em Chapada. Tenho uma loja lá, faço pesquisas. Eu tenho três filhas e eu não acho casa para morar. O que eu vejo? Pessoas que nasceram, que se criaram lá, foram embora, porque tiveram que devolver a casa alugada e não tem lugar para morar. Hoje, se você procurar uma casa para alugar em Chapada, você não encontra. Quando você encontra uma, são R$ 1,5 mil para uma casa com três cômodos. Você paga caríssimo para morar mal”, conta a turismóloga.
“Vou trabalhar lá e volto. Eu gero dinheiro, mas não tenho onde morar por lá”Natally Neves
Atuante em diversos segmentos turísticos, Natally pondera sobre quem, de fato, se beneficia com o turismo em Chapada dos Guimarães. Para a turismóloga, o mercado do turismo é prejudicado, já que os locatários não possuem as mesmas obrigações – pagamento de taxas, impostos, licenças – do que uma pousada.
“Quem tem casa e não mora lá, ou até mora, mas não coloca mais para aluguel, ganha dinheiro com a casa, alugando pelo Booking ou AirBnb. O que acontece? Essas pessoas não contribuem para o município, ganham dinheiro com Chapada, mas a comunidade está perdendo. Eu, por exemplo, moro em Cuiabá, vou trabalhar lá e volto. Eu gero dinheiro, mas não tenho onde morar por lá”, destaca Natally.
Em uma cidade como Chapada dos Guimarães, que é pequena, a coexistência de um mercado imobiliário com um aplicativo de prestação de serviço do mesmo segmento é sufocante para a manutenção dos valores de aluguel. Embora haja vantagens, a existência de AirBnb em um conjunto pequeno de imóveis, como do município, atrapalha o funcionamento do mercado.
"Para o ajuste de mercado, deve haver um equilíbrio entre os dois segmentos, para que nenhuma saia prejudicado”, conclui Marco Pessoz.