O falecimento da amiga, historiadora, professora, Geralda Dias Aparecida, em 17 de abril de 2012, decorrente das sequelas do Covid 19, após hospitalização de um mês, em Brasília, onde residia, deixa-nos profundamente consternadas.
Geralda foi professora no departamento de História da UFMT, de 1982 a 1985, atuando com paixão em várias disciplinas e, de modo particular, a disciplina de História da América.
A ambiência com esta área do conhecimento explicava-se por sua experiência como professora titular na Universidade Autónoma Metropolitana de México (UAM), entre os anos de 1977 e 1982. Estadia essa forjada em decorrência de sua participação ativa no movimento estudantil, o que a levou a sair do país no final da década de 1960. Ainda nesse país, realizou seu doutorado no Colégio de México, entre 1973 e 1981. De volta ao Brasil, ingressou no quadro de docentes do departamento de História da UFMT.
Durante sua estadia na UFMT exerceu o cargo de vice-presidente da ADUFMAT, na gestão da Diretoria “Afirmação” (1984/1985), presidida pelo professor Guilherme Frederico Moura Muller. Essa gestão deu sequência ao trabalho da diretoria "Renascer" que havia promovido, em parceria com as demais entidades sindicais da UFMT, a primeira eleição para a reitoria.
A ADUFMAT, sob a chapa “Afirmação”, mobilizou a UFMT como um todo: docentes, administração, técnicos, servidores e discentes na luta pela redemocratização do país. Nesse engajamento, encontrava-se a luta pelas eleições das "Diretas Já", com a Emenda Dante de Oliveira.
Com este mesmo espírito, consolidou-se, entre os docentes, o compromisso de democratizar o campus da UFMT, o que significava democratizar a gestão universitária em todos os níveis, com eleições diretas, desde a escolha do(a) reitor(a) à chefia de departamento.
Fortaleceu-se, assim, na UFMT, a prática dos debates entre os candidatos à reitoria, sob a coordenação da ADUFMAT. Talvez esteja aí uma das explicações de que, até os dias atuais, tais eleições se mantenham sob a coordenação da ADUFMAT Ssind. Assim sendo, pela primeira vez, uma eleição, com as urnas do Tribunal Regional Eleitoral, eram distribuídas em todos os campi da UFMT.
Com sua forma serena, altiva, diplomática, perspicaz, esta professora sabia, como poucos, se movimentar e se fazer ouvir. Tais predicados, podiam ser notados em meio a uma assembleia, ou mesmo em outros espaços: uma roda de samba, uma mesa de bar, uma conversa amiga e franca com seus alunos, em uma reunião formal. Ali estava Geralda, inteira: interessada, comprometida, apresentando soluções e caminhos. Uma mente brilhante – comprometida profundamente com seu trabalho, seus alunos, suas pesquisas, com a universidade pública, com o Brasil. Uma intelectual que não se encaixava em partidos políticos, gostava de pensar e agir livremente. Uma mineira de boa cepa.
Após sua estadia na UFMT, ingressou via concurso público na Universidade de Brasília, onde permaneceu como docente até aposentar-se.
Na UNB, foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História entre 1985 e 1990. Dirigiu o Centro de Documentação da UNB (CEDOC) e, no âmbito deste centro, desenvolveu os trabalhos da Comissão de Anistia para a reintegração de professores perseguidos e exonerados durante a ditadura militar. Como profunda conhecedora da História da América, foi Diretora da Casa de Cultura da América Latina (CAL).
Cientes somos de que uma vida com a envergadura da historiadora e professora Geralda Dias Aparecida não se esgota em poucas linhas. Cabe-nos, neste momento, onde quer que esteja, afirmar nossa gratidão pelo seu inestimável legado.
Para as gerações atuais, futuras, e ex-alunos, deixa, com certeza, um imenso legado na luta pela valorização e defesa da universidade pública, bem como a permanente necessidade da luta pela democratização de nosso país e da defesa dos direitos humanos na América Latina como um todo. Levemos avante seus sonhos e utopias!
Maria Adenir Peraro e Maria Inés Malta Castro.
Historiadoras e professoras, aposentadas, pela UFMT e UniCEUB, respectivamente.
Cuiabá, 17 de abril de 2021