04 de Janeiro de 2025

OPINIÃO Quinta-feira, 02 de Janeiro de 2025, 11:56 - A | A

Lily Lages

Rosana de Barros

rosana de Baarros

 Rosana de Barros

Em passeio por terras alagoanas, é um prazer conhecer e contar a história da feminista Maria José Salgado Lages, ou somente Lily Lages. Médica, sufragista, professora, literata, política e escritora, foi a primeira mulher eleita deputada estadual da Assembleia Legislativa de Alagoas.

Logo cedo mostrou afeição pela escrita, tendo sido responsável pela letra do hino do colégio onde estudava. Escrevia, ainda na adolescência, poemas e peças teatrais, onde também atuava. A vocação para a medicina aflorou muito jovem, com a dissecação de animais mortos para explorar os órgãos internos.

Lily ingressou na faculdade de medicina em 1925, tendo mostrado o interesse pela pesquisa. Ao concluir a graduação recebeu o prêmio Alfredo Britto, pela relevância cientifica e inovação do tema "Infecção focal e surdez”.

A médica atuou fortemente na defesa das mulheres com o enfoque da maternidade. Vislumbrou as muitas violências sofridas por elas no momento gestacional e do parto, tendo militado em relação à integridade física e moral das mulheres no que diz respeito ao cuidado materno.

Lily costumava afirmar que as mulheres necessitam desenvolver conhecimento específico para conseguirem desenvolver os cuidados necessários para com os nenéns, inclusive baseando-se em saberes sobre questões de pedagogia e higiene. Defendia que as mulheres deveriam receber auxílio governamental ao longo da gestação, e que as crianças precisariam passar por higiene mental para terem um bom comportamento em sociedade.

Em ano da Semana de Arte Moderna, 1922, foi organizada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em um contexto histórico no qual se intensificavam as lutas em prol do voto feminino, que começou no século XIX. Em 13 de maio de 1932, Lily se tornou presidente do movimento, se destacando em Alagoas, com o objetivo de impactar a sociedade politicamente, culturalmente e socialmente.

No ano de 1934 Lily foi eleita deputada estadual da Assembleia Legislativa de Alagoas, conquistando 13.891 votos. Contribuiu sobremaneira para a elaboração da primeira Constituição Estadual Alagoana, com algumas emendas de sua autoria.

Com a liga feminista, Lily atuou em beneficio do leprosário, para idosos e idosas, crianças e adolescentes. Entendia que mulheres sem instrução sempre ficariam relegadas aos afazeres domésticos, e reclusas às paredes do lar, e com a primordial “função reprodutiva”. A federação manteve cursos gratuitos, com a finalidade educativa para a sociedade.

Preocupava-se com a inclusão feminina em todos os lugares, argumentando quanto a necessidade de conscientizar mulheres para o crescimento intelectual e a incrementação pelo gosto das artes. Em uma entrevista afirmou: “Outro problema vastíssimo e importante é o atinente à mulher: repressão da escravatura branca, proteção à maternidade, estabelecimento de regeneração e mais zelo.”

Segundo Solange Bérard Lages Chalita, autora do livro que leva o nome da homenageada, “Lily Lages”: “A vida pública de Maria José Salgado Lages, nome com o qual fora eleita a 14 de novembro de 1934, foi uma prova evidente de devotamento à gente de Alagoas. No final de 1937, encerraram-se suas atribuições políticas para se intensificarem as médicas. Sentia-se gratificada, consciência tranquila pelo teor social do trabalho realizado.”

Lily é orgulho para o feminismo! É dela: “O espírito feminino é perspicaz, é curioso, é vivo, é analítico. Disseca, pormenoriza, especifica, com mais habilidade e destreza do que o masculino, que é o de apreensão de conjunto, de englobação, de síntese.”

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



Comente esta notícia