O cuiabano Sidney Duarte Barbosa é advogado e, atualmente, procurador geral do município de Ji-Paraná, no estado de Rondônia, onde vive há cerca de 20 anos. Mas por trás do servidor responsável e repleto de atribuições burocráticas, habita um aventureiro nato e apaixonado pelas estradas – de preferência a bordo de uma motocicleta, percorrendo roteiros exóticos e explorando as belezas naturais do mundo.
Acostumado à rotina de planejamento, coordenação, controle e execução das atividades que sua função exige, buscou exatamente nesta experiência da carreira as ferramentas necessárias para realizar a maior das aventuras da sua vida. A maior até o momento, pois é um viajante inquieto e cheio de vontade de desbravar os mais longínquos lugares, principalmente os que estão fora dos roteiros comerciais.
Advogado formado na PUC do Rio de Janeiro, Sidney foi servidor federal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso e depois da Advocacia Geral da União (AGU/MT). Migrou para Rondônia, em 1999.
Após 10 anos de preparação, em dezembro de 2016, Sidney realizou a grande façanha de percorrer 44 mil km, passando por 13 países, além de todo o estado americano do Alaska, um dos 50 estados dos Estados Unidos e o maior em extensão territorial. Toda a aventura durou 4 meses.
Em entrevista para o GD, o procurador conta um pouco da fascinante viagem, que ganhou o nome de Expedição Alaska. De acordo com ele, a trajetória teve início em Porto Velho (RO) com destino a San Diego, na Califórnia (EUA), com 16.600 km percorridos. Em seguida, outros 5.500 km de estradas, com cenários cinematográficos, pelo interior do México. Ele afirma que o plano era chegar no teto das Américas, dentro Círculo Polar Ártico, por Inuvik no Canadá e Prudhoy Bay no Alaska, ambos no mar Ártico. “A intensão era conhecer diferentes povos e culturas, a gastronomia e as tradições, e integralizar com os países das três Américas”.
O objetivo inicial foi alcançado, mas estudando e pesquisando todo o roteiro, o viajante não tinha ideia do que poderia encontrar pela frente. Para isso, dedicou anos na preparação física, mental e financeira, já que sabia que era um tipo de viagem cara, mesmo fazendo uma trip tipo econômica, acampando por diversas vezes, nos Estados Unidos e Canadá – sempre muito bem equipado.
A princípio, o motociclista seguiria viagem sozinho, mas foi surpreendido com a decisão e de um amigo, o empresário Reinaldo Fecchio, em acompanhá-lo.
“Assim, eu tive a companhia de um amigo, um parceiro, o que em sua opinião é muito importante. Ele decidiu me acompanhar e aproveitar a oportunidade, pois acreditava que se não fosse comigo, não iria com mais ninguém. Poucos têm coragem de embarcar em uma aventura como essa”.
O início
Sidney é aventureiro de jipe 4x4 e há 30 anos iniciou a façanha de percorrer o território mato-grossense em toda sua extensão. Cruzou as estradas e rodovias do Xingu-Pará, Cuiabá-Santarém, Transamazônica, Porto Velho, Manaus, BR 80, de Vila Rica a Barra do Garças, e conheceu por completo a região do Pantanal, em várias expedições, viagens e rallys, além da Bolívia.
Percorreu o Brasil inteiro e a América do Sul – do Marco do Turvo, do extremo norte da Venezuela, até o Ushuaia, a Terra do Fogo, extremo sul do mundo, localizado mais abaixo da Austrália. “Na verdade, o desejo de fazer a viagem ao Alaska começou aí. Toda essa bagagem me proporcionou o preparo necessário, conhecimento, autocontrole – o que é muito importante –, segurança, coragem. Daí para frente, o resto foi uma continuidade de experiências”.
Pelo histórico de aventuras, ele considerou estar preparado para embarcar em uma viagem, mais longa e mais difícil. “Me preparei por 10 anos para fazer a viagem ao Alaska. Considero que foi um sucesso absoluto. Graças a Deus, com muita segurança e experiência de todos os tipos. Foi uma aventura muito perigosa também, porque os 3 países mais perigosos do mundo estão na América Central (El Salvador, Honduras e Guatemala), mas muito importante”.
Sidney ressalta um detalhe, de importância sentimental: a moto com a qual viajou foi adquirida e emplacada em Cuiabá. “Fiz questão de fazer essa viagem com a placa da minha terra querida. Estou feliz por poder compartilhar essa histórica com o povo cuiabano, meus amigos dessa terra que amo”.
Roteiro
Motos preparadas e malas prontas. A dupla saiu do Brasil rodando com os veículos. De Rondônia, seguindo pelo Acre, passando pelo Peru, pela divisa Assis-Brasil, Porto Maldonado, Cusco, Lima, subindo pela costa do Oceano Pacífico, Equador, atravessaram pela Colômbia – inteira – Cali, Medelín.
O próximo destino foi Cartagena, que segundo Sidney é a cidade mais linda do país, na beira do Caribe. Lá, os viajantes embarcaram as motos em um navio com destino para o Panamá – pois a rodovia Pan-Americana não tem continuidade. São 200 km entre a Colômbia e o Panamá, onde se encontra o Estreito de Darien. Com 575 mil hectares, essa área de selva interrompe a rodovia que liga a maioria dos países da América. É um lugar inóspito e perigoso.
Eles partiram de catamaran em um passeio por todas as ilhas San Blas, Comarca dos índios Kuna Yala (ou Guna Yala), um dos poucos paraísos que preservam sua natureza intocável. O arquipélago é formado por 365 belas e diversificadas ilhas. Cada uma delas com sua beleza, formato e, algumas vezes, diferentes cores do mar. Ele conta que, em alguns casos, as ilhotas são apenas uma pequena faixa de areia e um coqueiro.
Pode parecer algo bem rústico e isolado demais, mas para os dois viajantes, o local ficou marcado na memória. “Coisa de cinema”, afirma Sidney.
De volta à terra firme, pegaram as motos em Colon, na extremidade do Caribe no canal do Panamá. Atravessaram para Costa Rica – passando pela praia de Jacó e seguiram a Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Belize e México. “Cruzamos todos os países da América Central. A maioria dos viajantes e aventureiros optam por cortar do roteiro – El Salvador e Belize – mas nós fizermos um zig zag e atravessamos todos. Entramos no México pela Península de Yucatan, por Belize, passamos por lugares como Tulun, Cancún, Mérida, Acapuco, Mazapán, entre outros”.
A seguir, os amigos, e as motocicletas companheiras de viagem, cruzaram o Golfo da Califórnia de ferry boat para a cidade de La Paz, capital do estado mexicano de Baja California Sur. Percorreram até o extremo sul, na cidade de Todos Santos. Trata-se de uma pequena cidade costeira no pé da Sierra de la Laguna, famosa por seu Hotel Califórnia - eternizado no disco homônimo de 1976 do Eagles, o mais vendido da banda de rock liderada por Glenn Frey e Don Henley.
O próximo destino seria entrar nos Estados Unidos. Então, subiram pelo deserto, percorrendo 1.200 km, até Tirruana, onde entraram no país por San Diego, na Califórnia. “De todo o percuruso, as estradas mais lindas que percorremos do Peru até o Alaska, foram as do México. As rodovias costeando o golfo da Califórnia é algo extraordinário, com paisagens impressionantemente lindas”.
Ele conta ainda que em toda a viagem tiveram apenas dois pequenos incidentes, ambos em El Salvador. Um foi a ameaça de assalto na região de alfândega, na fronteira. O outro ocorreu já no interior, quando foram seguidos por dois homens em uma moto. “Como estávamos em motos grandes, conseguimos acelerar e nos distanciar. No mais, tudo ocorreu perfeitamente, nas questões de saúde, segurança, mecânica, histórias e experiências únicas na vida!”.
As motos não apresentaram problemas, sendo necessárias apenas algumas manutenções básicas como troca de pneu e óleo. “Toda a viagem foi uma grande emoção. Às vezes, paro para pensar e eu mesmo não acredito que tenha feito uma façanha tão extraordinária, tão difícil, tão cara e tão rica de conhecimento, cultura, pessoas. Algo único na minha vida”.
Novos roteiros
Viajante nato, trilheiro, que ama o contato com a natureza e tudo que envolve adrenalina, Sidney nutre o desejo de percorrer os 5 continentes do mundo de motocicleta. O grande desafio será em dezembro desse ano, quando parte para Austrália, em seguida irá para Europa e Ásia – até Vladivostok na Sibéria Rússia, rodovia trilha Transiberiana. O último trecho será na África do Norte até a África do Sul pela costa Leste.
“Tenho outro projetos e sonhos, mas acredito que nunca mais farei algo parecido com a Expedição Alaska 2016 (confira mais fotos e informações da viagem Aqui).