Mirta iniciou sua trajetória na aviação agrícola em 1946, durante uma das maiores infestações de gafanhotos já registradas no sul da América do Sul.
A crise motivou o governo uruguaio a usar aviões no combate aos insetos — ação que inspirou, no ano seguinte, o surgimento da aviação agrícola no Brasil. Por esse motivo, Mirta era conhecida como “La Última Langostera”, em referência aos pilotos que combatiam “langostas” (gafanhotos, em espanhol) naquela época.
Nascida em 3 de janeiro de 1924, na cidade de Carmelo, às margens do Rio da Prata, no departamento de Colonia, ela se apaixonou pela aviação ainda na infância, ao visitar com frequência o campo de aviação local. Aos 14 anos, após a morte do pai, mudou-se com a família para Montevidéu. Lá, conquistou, aos 16 anos, uma bolsa de estudos para formação de piloto amador voltada a enfermeiras — área em que já havia se formado, inclusive em curso específico para aviação.
Em 1943, Mirta se tornou a primeira mulher piloto profissional (Brevê Classe B) do Uruguai, além de ter concluído também o curso de mecânica aeronáutica.
Três anos depois, entrou oficialmente para a aviação agrícola, em uma carreira que a levaria à direção dos Serviços Aeronáuticos do Ministério da Agricultura e Pesca do país, em um período em que todo o serviço aeroagrícola era gerido pelo governo.
Missões internacionais e pioneirismo
Durante sua trajetória, Mirta representou o Uruguai em intercâmbios internacionais com países como os Estados Unidos e a Nova Zelândia, em busca de inovações em técnicas e equipamentos para o setor. Ela também pilotou aeronaves em missões de translado internacional, cruzando a Cordilheira dos Andes pela Rota do Pacífico — em uma época sem GPS — para levar ao país aviões adquiridos nos EUA.
Mirta comandou o setor por quase 40 anos e foi responsável por recrutar outras mulheres para atuar como pilotos, promovendo o protagonismo feminino na aviação do país. Nos anos 1950, conheceu em Montevidéu a brasileira Ada Rogato, ícone da aviação nacional e primeira mulher a voar agrícola no Brasil.
Espírito desbravador até o fim
Aos 71 anos, Mirta foi a primeira mulher a voar em uma aeronave de combate no Uruguai, pilotando um FAU-283 Dragonfly. E aos 80, comemorou o aniversário com um salto de paraquedas, mostrando que a paixão pela aviação e pela aventura a acompanhou por toda a vida.

Em 2018, ela foi homenageada pelo Sindag e pelo Ibravag, em uma visita à sua casa em Montevidéu. Na ocasião, concedeu entrevista à revista Aviação Agrícola, relembrando sua trajetória pioneira.
Dois anos depois, em 2022, seu centenário foi celebrado com uma cerimônia no Aeroclube do Uruguai, com presença de autoridades e figuras importantes da aviação — justamente no local onde tudo começou.
Mirta Vanni deixa um legado histórico na aviação agrícola e na luta por espaço feminino na aviação. Seu nome seguirá voando alto na memória do setor e das mulheres que ela ajudou a inspirar.
Também liderou a equipe responsável por buscar 10 aeronaves Ipanema na fábrica da Embraer, em São Paulo. Ela mesma pilotou no trajeto de volta ao Uruguai.