Ser jornalista de direita no Brasil é como andar na corda bamba com torcida contra dos dois lados. De um lado, há colegas de profissão que te tratam como um corpo estranho dentro da redação, como se você fosse um erro de sistema.
Do outro, há os militantes de direita que exigem que você reforce narrativas a todo custo — e qualquer passo fora da linha já te transforma em “isentão”, “vendido” ou “traidor do movimento”.
A coisa fica ainda mais complicada quando você resolve cobrir pautas que, historicamente, foram apropriadas pela esquerda: cultura, políticas públicas, inclusão, audiovisual, arte popular, movimentos sociais, educação técnica. De repente, você se vê tendo que explicar para seus próprios pares que essas pautas são importantes, sim — e que defendê-las não te torna menos fiel aos seus valores.
Jornalismo não é panfleto
A função do jornalista não é servir como caixa de ressonância de ideologias, mas informar com responsabilidade. Claro que todo jornalista tem uma visão de mundo — negar isso é hipocrisia. Mas há uma diferença enorme entre ter uma visão e ser refém dela.
O problema é que, quando você é de direita, esperam que você apenas repita os slogans do seu "lado". Que critique a Lei Rouanet sem nem saber como ela funciona. Que enxergue qualquer política pública como assistencialismo barato. Que veja qualquer série brasileira como propaganda comunista.
Mas e se, ao invés disso, você resolver contar a história real por trás de um projeto de cultura que deu certo? E se você cobrir a criação de uma sala de cinema num instituto federal com honestidade jornalística, sem sarcasmo, sem veneno? A patrulha vem — e não é só da esquerda, não. A patrulha vem forte do seu próprio campo.
Quando o rótulo pesa mais que o conteúdo
Há um preconceito estrutural no jornalismo brasileiro contra quem se posiciona à direita. A maioria das redações, centros acadêmicos e coletivos culturais ainda operam sob uma lógica monocromática, onde tudo que foge do progressismo é visto como ameaça.
Mas quando esse jornalista de direita resolve quebrar o estereótipo e cobrir assuntos “de esquerda” com profundidade e respeito, o incômodo é generalizado. Ele começa a não servir mais para nenhuma das bolhas. Vira um corpo estranho na redação e um "isentão" na timeline.
E aí vem a pergunta inevitável: vale a pena?
Vale, sim.
Vale, porque o jornalismo não pode ser monopólio de uma visão de mundo. Vale, porque há milhões de leitores, ouvintes e espectadores que querem informação com equilíbrio, não com raiva. Vale, porque a direita também precisa aprender a lidar com pautas sociais de forma madura, sem medo de parecer “sensível”. E vale, porque alguém precisa mostrar que dá, sim, para ser conservador e humano, liberal e comprometido com o bem comum, de direita e ainda assim justo.
Ser jornalista de direita e cobrir essas pautas é desafiador. Mas é também uma forma de resistência — não ao outro lado, mas à polarização burra, à preguiça intelectual e ao jornalismo panfletário, que só sabe pregar para convertidos.
E se isso desagrada os extremos, talvez seja porque está no caminho certo.
Parabéns à todos os jornalistas, independente da ideologia a qual são alinhados!
Ana Barros é servidora pública, Jornalista com pós-graduação em assessoria de imprensa em empreendedorismo e marketing digital