O caso da tutora de um cachorro da raça chow-chow, que denunciou a clínica veterinária São Francisco, por maus tratos ao animal durante o banho no petshop, em Cuiabá, no dia 20 de dezembro, ganha novos desdobramentos.
O Primeira Página teve acesso ao laudo preliminar da Delegacia Especializada de Meio Ambiente (DEMA), que aponta que os policiais tiveram acesso às imagens da clínica veterinária São Francisco, em Cuiabá, e não constataram maus tratos.
Conforme a denúncia, o cão teria sido agredido durante o banho. Em um vídeo publicado no TikTok, a tutora disse que teve acesso a parte das imagens das câmeras de segurança do estabelecimento, e afirma que o tosador “espancou, torturou e arrancou a unha do cachorro”. O cachorro, chamado Sol, é cliente do local há 3 anos.
Segundo o laudo preliminar da polícia especializada, durante as investigações as equipes da DEMA analisaram imagens de seis câmeras da clínica, desde a entrada no estacionamento, quando os animais chegam na van, passam pelos corredores, o local do banho e o local da secagem e escova.
O documento detalha que os policiais não constataram nas imagens atos que caracterizam maus tratos ao cachorro, e que foi possível observar a tutora do animal tentando agredir o tosador com uma vassoura.
O caso está sendo investigado.
Unhas machucadas
Fotos registradas logo após o cachorro da raça chow-chow chegar em casa, mostram as unhas do animal com sangue e ferimentos aparentes. O machucado foi confirmado pela anamnese realizada no animal com um veterinário de outra clínica, e consta no laudo preliminar.
De acordo o representante do pet shop, que não terá a identidade divulgada, imagens das câmeras de segurança não mostram o tosador cortando as unhas do animal. Naquele mesmo dia, três cachorros de Débora receberam atendimento, e que, ainda segundo a pet shop, apenas um deles teve as unhas aparadas.
O representante do petshop, afirma que, caso o cachorro tivesse se machucado no local ou durante o transporte, haveria muito sangue, o que não foi encontrado.
“Liguei imediatamente para a clínica, o diretor me atendeu e falou que ia olhar o que aconteceu. Eu falei, então, olha por favor que eu estou indo aí. Chegando lá, eu quero olhar as imagens, ele me enrolou uns 60 minutos, mas deixou eu olhar as imagens“, afirma Débora no vídeo.
No entanto, a clínica diz que as imagens mostram a tutora sendo atendida menos de 10 minutos após ela chegar no local.
O funcionário do petshop conta que a tutora chegou exaltada no local.
“Ela fala que estava sangrando, só que ela não deixou nenhum de nós, médicos veterinários, examinarmos a unha. Ela foi ver as imagens [das câmeras]; o profissional de TI estava procurando a imagem, enquanto a noiva da tutora desceu com o dono da clínica para analisar a caixa de transporte”.
A clínica conta ainda que não havia vestígio de sangue na caixa em que o animal foi transportado para casa, após o banho.
O estabelecimento diz que aguardou a análise de todos os fatos para vir a público.
Acusação de maus-tratos
“Eu vi o meu cachorrinho, o Sol, sozinho numa mesa com esse dosador apanhando. Ele levou uma escovada primeiro, primeiro ele levou uma escovada na costela, na altura do que seria a nossa costela. Depois ele já estava amarrado, o Sol era extremamente doce, o Sol estava todo encolhido na mesa. Ele estava amarrado já, pegou uma corda mais fina, o Sol já estava amarrado na coleira, encolhidinho na mesa. Ele pegou uma corda mais fina, ajustou o tamanho do pescoço do Sol e deu três arranques do Sol, tamanho de uns 50 centímetros, que a mesa se mexeu de um lado para o outro. O Sol se encolheu mais, depois ele pegou o Sol pelo rabo, levantou o Sol pelo rabo, e aí nessa hora eu parei de ver o vídeo, não consegui ver o vídeo mais”, diz a tutora no vídeo.
Quando questionada sobre as acusações, a clínica nega e explica que o uso da corda durante a tosa é um procedimento padrão para garantir a segurança do tosador e do animal, sobretudo para um cachorro de grande porte, como é o caso do Sol, da raça chow-chow.
“Tem pequenos [cachorros] que precisa colocar focinheira. A corda vai servir para que o cão não caia da mesa, para que ele fique posicionado, mas ela não tem pressão tanto que se você olhar no vídeo, o cachorro tá na ponta da mesa, e a corda tem espaço”, explica.
No vídeo, o tosador aparece escovando o pelo do animal com dificuldade. Em um determinado momento, ele registra a situação do pelo do animal pela câmera do celular. Veja foto abaixo.
A clínica destacou ainda que a mesa utilizada para a tosa do animal é separada do espaço principal do pet shop por uma divisória de vidro, permitindo total visibilidade das atividades realizadas.
O estabelecimento aponta que as imagens das câmeras de segurança mostram que, em determinado momento da tosa, o chow-chow desequilibra as patas traseiras da mesa, momento em que o tosador o pega pelo rabo e pela corda, o recoloca na mesa, e continua a tosa. Tudo acontece muito rápido.
A clínica afirma que, apesar da queda, o animal não apresentou ferimentos e ficou tranquilo durante o restante da sessão.
Em outro momento, durante a tosa higiênica, também foi necessário que o rabo fosse levantado, seguindo os protocolos padrões para esse tipo de serviço.
A denúncia de maus-tratos está sendo investigada pela Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema).
Agressão ao funcionário
No vídeo adquirido com exclusividade pelo Primeira Página, no dia 26 de dezembro – veja abaixo – a tutora do chow-chow, Débora, e a mãe dela, aparecem gritando com o tosador.
Conforme relato do estabelecimento, após ver parte das imagens da tosa, Débora entra no espaço dos funcionários com a mãe, e ameaça o funcionário com um cabo de uma vassoura.
“Ela entra no pet com a vassoura, bate ela no chão, cospe no nosso colaborador. Ele ficou assustado sem entender o que estava acontecendo porque ele tinha terminado o serviço dele, e estava se preparando para ir embora”, relata a clínica.
Após o término da confusão, o pai da jovem apareceu no local e ameçou funcionários.
O tosador registrou um boletim de ocorrência por meio da Delegacia Digital. O caso será investigado.
Ameaça de morte
Com a onda de indignação gerada pelo vídeo nas redes sociais, a clínica também registrou dois boletins de ocorrência referente a ameaças que sofreu por meio de ligações.
O áudio da ligação, que foi gravado e encaminhado à Polícia Civil, diz para o funcionário “ficar esperto, que está sendo monitorado..” e ainda que vai mandar alguém na loja para atirar nos funcionários.
O suspeito afirma ser de uma facção criminosa e que a ameaça seria por causa do chow-chow, mencionado na reportagem.