Médica veterinária há 15 anos, a várzea-grandense Julie Christie é especialista em tratamentos integrativos cuja meta principal é a melhora da qualidade de vida do animal e de seu tutor. Ela relata que muitos animais chegam até ela com data de óbito pré-estabelecida por outros veterinários, mas que, com o auxílio de tratamentos diversos, conseguem ter melhoras significativas.
Julie, de 38 anos, compartilha que a maior parte de seus pacientes são cães e gatos idosos com câncer, problemas renais e locomotores. Ela defende que é importante diagnosticar os pets com equilíbrio para evitar a sobrecarga de medicações e procedimentos.
“Visualizamos o que está desequilibrando (a saúde) e tratamos aos poucos. Se um animal está debilitado, por que fazer um procedimento se vou debilitar mais? O corpo não vai conseguir responder. A medicina que eu trabalho é ponderar decisões”, explica.
Para a médica veterinária, um dos maiores desafios da profissão é não sofrer com a dor dos animais e com o luto de tutores que perderam os pets. A equipe de Julie tenta não se envolver emocionalmente com os pacientes, mas ela alerta que ter amor e carinho é inevitável.
A fim de tornar as dificuldades menos exaustivas, ela busca oferecer conforto e acolhimento aos cães e gatos para que eles consigam enfrentar as doenças com menos sofrimento.
Julie defende o tratamento com canabidiol – medicamento derivado da Cannabis sativa, conhecida como maconha – para casos nos quais a medicação foi recomendada por especialistas. Ela esclarece que a ciência aponta diversos benefícios desse medicamento, desde que seja prescrito com sensatez.
Julie defende a prescrição de canabidiol a alguns animais, desde que os especialistas considerem o uso do medicamento benéfico e necessário
“Tem evidências que comprovam a eficácia do canabidiol. Receito para problemas neurológicos, hormonais, convulsões e para controlar a dor do câncer. Não é que o canabidiol vai suprir um fenobarbital (gardenal). Tudo tem que ter um equilíbrio, para cada doença tem uma proporção. Hoje em dia as pessoas procuram a cannabis de forma leiga”, revela.
O custo do canabidiol, no entanto, o torna pouco acessível. Julie diz que um frasco de 30 ml, de uma empresa credenciada, custa R$ 700 e dura entorno de um mês. Dessa maneira, muitos tutores acabam não podendo comprar o medicamento para pets que precisam.
Por ser derivado da maconha, há diversas discussões sociais acerca do canabidiol, mas a veterinária não se incomoda com as polêmicas. Ela explica que os tutores que a procuram têm a mente aberta.
Julie afirma que outro tratamento de destaque é a acupuntura. Ela conheceu o método através de um chefe que a incentivou a estudar o ramo. No início, a veterinária atendia apenas equinos, mas, com o tempo, se especializou no atendimento de cães e gatos após dois anos de estudos em São Paulo.
“A acupuntura serve para tudo. Tratamento renal, tratamento de doenças sistêmicas, problemas hepáticos, neurológicos, locomotores, tumores e pancreatites. Tem ótimos resultados. Já recebi um paciente que ia para a cirurgia, mas com três sessões (de acupuntura) voltou a andar”, lembra.
Uma das dúvidas frequentes é se o tratamento com acupuntura é dolorido. Ela explica que a aplicação das agulhas dói somente em alguns pontos do corpo, mas não de forma intensa. Conforme a veterinária, há cães que não sentem dor, mas, por serem bravos, se mostram agressivos durante a sessão.
A veterinária explica que, além dos tratamentos, é importante zelar pela relação entre tutores e animais, pois, em muitos casos, os donos acabam adoecendo os bichos por descarregarem neles os problemas da vida cotidiana.
“Hoje em dia temos muitos problemas de depressão e ansiedade. Eles (os tutores) têm passado isso aos cães. Muitas vezes você vai atender um cachorro extremamente ansioso e o dono também é. Muita gente joga seus problemas no cão e acaba alterando o comportamento do animal”, esclarece.
Julie conclui ao dizer que a medicina veterinária é uma profissão de amor, pois além de cuidar dos animais também é essencial ajudar e acolher os donos, principalmente nos momentos de luto.
“Sempre gostei muito de bichos. Às vezes bato aqui (na clínica) de madrugada para ver se está tudo certo, acordo e durmo fazendo o que tanto amo. É sobre ser verdadeiro, saber entender momentos de explosão. Ele (o tutor) vai te abraçar, chorar e tá tudo bem. A palavra essencial é acolher”, conclui.